No link Recomendações alimentares tradicionais estão eqivocadas! fiz uma citação comparando as quantidades de vitaminas do complexo B entre 100 gramas de Pão de Trigo Integral e 100 gramas de Costela Assada, onde a costela apresenta 3 vezes mais vitaminas do que o pão. Disse também que se você quer ingerir mais vitaminas do complexo B é melhor comer carne do que pão integral. Mas com certeza vai surgir a questão: Carlinhos! mas e a gordura da carne vai entupir minhas artérias e eu vou morrer do coração!
Na Diretriz 6 do Guia Alimentar para População Brasileira - Promovendo a Saúde apresenta as recomendações sobre a ingestão de gorduras, açúcar e sal. Minha intenção é mostrar quais as recomendações em relação à gordura e analisá-las. Vamos lá!
O que diz o texto oficial:
"O consumo freqüente e em grande quantidade de gorduras, açúcar e sal aumenta o risco de doenças como obesidade, hipertensão arterial, diabetes e doenças do coração."
"A redução do consumo de alimentos com alta concentração de sal, açúcar e gordura para diminuir o risco de ocorrência de obesidade, hipertensão arterial, diabetes, dislipidemias e doenças cardiovasculares."
"A contribuição de gorduras e óleos, de todas as fontes, não deve ultrapassar os limites de 15% a 30% da energia total da alimentação diária."
"O total de gordura saturada não deve ultrapassar 10% do total da energia diária."
"O consumo máximo diário de 1 porção de alimentos do grupo dos óleos e gorduras, dando preferência aos óleos vegetais, azeite e margarinas livres de ácidos graxos trans."
Bem! O que a Ciência Baseada em Evidências diz sobre essas recomendações oficiais?
Vamos iniciar falando sobre a ingestão de gorduras e doenças do coração.
Bem esse lance de que gordura faz mal para a saúde começou por volta de 1950, um médico americano chamado Ancel Keys publicou, em 1953, um trabalho [1] onde ele avaliou a quantidade de gordura disponível em seis países e relacionou com o número de mortes por doenças cardiovasculares em homens entre 48 e 59 anos, o gráfico abaixo foi feito com os dados apresentados pelo autor na página 1403 [1].
Vocês podem notar que quanto maior o percentual de calorias vindas da gordura maior é o número de mortes em cada mil indivíduos. O país com a menor taxa de mortalidade era o Japão e o EUA foi o país com a maior taxa de mortalidade. Esse trabalho demonstra que existe uma correlação entre a quantidade de gordura na dieta e o número de mortes por problemas cardiovasculares.
A partir da publicação deste trabalho surgiu a teoria Dieta-Coração que tem nas gorduras, principalmente a gordura saturada, a principal causa dos problemas ligados ao colesterol e as doenças cardiovasculares.
O Ancel Keys juntamente com outras pessoas do American Heart Association (AHA [Associação Americana do Coração]) publicaram, em 1961, um trabalho [2] com o seguinte título e seguinte conclusão:
Assim a partir de 1961 o posicionamento oficial do AHA sobre "A gordura dietética e sua relação com infarto e derrames" passou a ser de que "a redução ou o controle da ingestão de gordura sob supervisão médica, com razoável substituição das gorduras saturadas por gorduras polinsaturadas, é recomendada como um possível meio de prevenir arterosclerose e diminuir o risco de infartos e derrames. Esta recomendação é baseada nas melhores informações científicas disponíveis até o presente momento."
Só que quando lemos o trabalho de Keys [1] podemos ver na tabela 4 na página 1404 uma tabela que apresenta as taxas de mortalidade para todas as causas de 17 países. Isso nos leva a uma pergunta: Qual o motivo de mostrar na tabela 3 na página 1403 os dados referentes as mortes por causas cardiovasculares de somente 6 países? Será que ele não possuía os dados referentes as mortes cardiovasculares dos outros 11 países.
Se olharmos esse trabalho considerando a ciência baseada em evidências devemos considerar algumas coisas:
- A estimativa da ingestão de gordura foi feita através da divisão da quantidade total de gordura disponível no país pelo número de habitantes, independente se a gordura era usada pela indústria alimentícia ou para outros tipos de produtos não alimentícios [3].
- As mortes eram avaliadas através do atestado de óbito [3].
- Os resultados do trabalho demonstram uma correlação (ler o Estudos Observacionais) e não uma relação de causa e efeito.
Os pontos acima demonstram as limitações desse estudo e fazem com que estudos como esse não possam ser considerados como "as melhores informações científicas disponíveis até o momento" como aparece na conclusão do trabalho de 1961 do AHA.
Na mesma época dois outros autores, Yerushelmy e Hilleboe, em 1957 publicaram um trabalho com dados da mortalidade por causas cardiovasculares e a ingestão de gordura em 22 países onde não foi possível demonstrar a correlação que aparece no trabalho de Keys em 1953. Abaixo podemos ver os dados destes 22 países.
Como é possível perceber (nos dois retângulos vermelhos) países com uma ingestão semelhante de gordura apresentam taxas de mortalidade bastante diferentes. Como exemplo temos os EUA (país n° 22) e a Noruega (país n° 17). Ao olhar o gráfico acima vemos que não é possível fazer uma correlação entre a ingestão de gordura e a taxa de mortalidade cardiovascular.
Considerando esses dois trabalhos podemos questionar a afirmação de que "a redução ou o controle da ingestão de gordura sob supervisão médica, com razoável substituição das gorduras saturadas por gorduras polinsaturadas, é recomendada como um possível meio de prevenir arterosclerose e diminuir o risco de infartos e derrames" que aparece na recomendação do AHA em 1961. E parece ainda mais questionável dizer que "esta recomendação é baseada nas melhores informações científicas disponíveis até o presente momento."
No ano de 1977 o Senado dos EUA, em uma louvável tentativa de recomendar a população de seus país a dieta mais saudável possível como objetivo de diminuir a taxa de mortalidade cardiovascular e também por outras causas, lança as conclusões de uma comissão chamada Comissão McGovern (1968-1977) sobre esse tema. Esta comissão recomenda que os americanos reduzam a ingestão de gorduras de origem animal, substituam a gordura saturada por gordura polinsaturada, reduzam a ingestão de ovos, manteiga e alimentos ricos em colesterol e também deem preferência aos alimentos com baixa quantidade ou sem gordura [4].
A partir deste momento a gordura passou a representar o "lado negro da força"!
A Comissão McGovern também recomendou um aumento da ingestão de carboidratos complexos e a utilização de óleos vegetais que passaram a ser os "anjos da guarda de uma vida saudável".
Bem! É esperado que depois disso a saúde das pessoas viesse a melhorar. Porém não foi isso que aconteceu! Vou mostrar para vocês uma informação sobre saúde antes e após 1977.
Olhem o gráfico abaixo [4]!
Pode até ser coincidência, mas após a recomendação para que os americanos comessem menos gordura, menos ovos, menos manteiga e comessem mais carboidratos complexos e óleos vegetais o percentual de pessoas com sobrepeso ou obesidade aumentou de quase 35% em 1978 para mais de 65% em 2008!
Bem! Minha mensagem hoje é que parece haver indicativos de que tratar a gordura como a causa dos problemas modernos de saúde seja uma posição que não apresenta uma fundamentação sólida.
Carlinhos
Referências:
- http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1620415/pdf/amjphnation00376-0023.pdf
- http://jama.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=330357
- http://lowcarb-paleo.blogspot.com.br/2012/06/colesterol-i.html
- http://www.cnpp.usda.gov/Publications/DietaryGuidelines/2010/DGAC/Report/E-Appendix-E-4-History.pdf
- http://www.amazon.com/Smarter-Science-Slim-Exercise-Permanently/dp/0983520801
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