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O conteúdo é muito interessante, pois trada de uma comparação da saúde e da nutrição de duas comunidades. Uma de caçadores- coletores que viveu a 5 mil anos atrás e outra de agricultores que viveram a 400 anos anos atrás.
Na minha opinião as informações mais importantes envolvem as crianças. Mostrando dados que podem contribuir muito para uma alimentação saudável de verdade para nossas crianças.
Boa leitura!
Carlinhos
treinamentocarlinhos@gmail.com
COMPARANDO NUTRIÇÃO NO
PRÉ-HISTÓRICO
Caçadores-coletores e Agricultores
As informações aqui contidas vem
de um estudo realizado por Claire Cassidy* comparando evidência de saúde nutricional
com base nos restos mortais de duas populações sedentárias ou semi-sedentárias.
Os agricultores [AG] viveram a cerca de
400 anos atrás onde é hoje o leste de Kentucky. Os caçadores-coletores [CC] viveram
na parte ocidental de Kentucky a cerca de 5.000 anos atrás. Variáveis ambientais,
como animais, plantas, água e clima foram muito semelhantes para ambas às
populações.
A questão básica a ser respondida
por essa pesquisa
A saúde e a nutrição dos AG eram
melhores do que a saúde e a nutrição CC na pré-história? Uma razão pela qual
esta questão é importante é que os antropólogos têm assumido que as pessoas que
produziam seus próprios alimentos têm fontes estáveis e até mesmo um
excedente de nutrientes, ao passo que os CC tinham recursos imprevisíveis. No
entanto, há alguns indícios de que a seca, infestação de insetos, e a fome eram
todos problemas muito frequentes de agricultores. Etnografias de alguns grupos
de forrageamento [busca de alimentos em baixo de folhas e gravetos, revirando a
terra em busca de fontes de proteína], como os San do Kalahari e os Hadza da
Tanzânia mostraram amplos suprimentos de comida e uma variedade saudável de
alimentos sazonais.
Os padrões alimentares
Os CC tinham uma dieta rica em
proteínas e reduzida em carboidratos. Eles comiam grandes quantidades de
mexilhões e caracóis. Eles também comiam veados, pequenos mamíferos [esquilos,
porco-espinho, guaxinim e outros], peru selvagem e outros pássaros, tartarugas
e peixes. Às vezes, eles comiam cães durante cerimoniais e também consumias
plantas selvagens, uvas selvagens, amoras, girassóis e nozes.
Os AG tinham uma dieta rica em
carboidratos e reduzida em proteínas. Eles cultivavam milho, feijão e abóbora e
também consumiam uma vasta gama de plantas silvestres. Os animais selvagens,
como veados, alces, perus, tartaruga e peixes faziam parte da dieta, mas
constituíam uma proporção muito menor da dieta. O milho era utilizada com um
alimento de desmame para crianças pequenas.
As fontes primárias de dados
- Análises de animais e restos de plantas para avaliar os tipos de alimentos ingeridos.
- Análises esqueléticas que dão estimativas da idade à morte e vida expectativas.
- Análise dos ossos longos para a evidência de paragem do crescimento devido à desnutrição ou infecção.
- Análise de dentes para a evidência de parada do crescimento, desnutrição, cárie, e abcessos.
- Análise de crânios para a evidência de anemia por deficiência de ferro.

Evidência de desnutrição e
interrupção do crescimento
- Linhas de Harris [cicatrizes] no osso da tíbia. Estas linhas representam a deposição de material da calcificação que aparecem na infância quando ocorre desnutrição [Nota do tradutor: São linhas paralelas visíveis em radiografias dos ossos compridos e que correspondem a interrupção, definitiva ou temporária, do crescimento ósseo longitudinal].
- Hipoplasia do esmalte dos dentes. Aparecem linhas horizontais ou sulcos nos dentes e é causada por desnutrição na infância.
- Inflamação do periósteo, as alterações nos ossos longos com espessamento ou o desenvolvimento de faixas de material liso ou áspero, de manchas porosas nas superfícies ósseas. Em radiografias dos ossos mostram uma estratificação, o efeito "casca de cebola" em crianças pequenas. Esta síndrome é evidência de infecção; a doença pode ter sido treponematosis [semelhante a sífilis].
- A cárie dentária e abcessos dentários [infecção da cavidade pulpar].
- Hiperostose porótica do crânio. Estas lesões são causadas por anemia por deficiência de ferro.
Achados do estudo
Caçadores-coletores
[285 esqueletos]
|
Agricultores
[295 esqueletos]
|
|
Mortalidade
infantil
|
Baixa
até 12 meses
|
Alta até
12 meses
|
Mortalidade das
crianças
|
44%
morriam antes dos 17 anos
|
54%
morriam antes dos 17 anos e uma elevada mortalidade entre 1- e 4 anos
|
Média da
expectativa de vida
|
Aos 18
anos a expectativa de vida era de 36 anos
|
Aos 18
anos a expectativa de vida era de 30 anos
|
Evidências da
interrupção de crescimentos
|
Presentes
em maior número representando evidências de períodos regulares e breve de
fome sazonal
|
Presentes
em números mais baixos representando evidências de períodos de fome irregulares
e com maior duração
|
Evidências de
deficiência de ferro [anemia]
|
Ausentes
|
Presenta
em 50% das crianças até os 5 anos
|
Evidências de
inflações e infecções ósseas
|
Presentes
em baixo número
|
Presentes
em números elevados
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Perda de dentes e
abcessos
|
Taxa
baixa. Média de 1 cárie e alguma perda de dentes na velhice devido ao desgaste
|
Taxa
alta. Média de 7 cárie e perda de dentes entre as crianças
|
Conclusões do estudo
Em geral, a saúde dos CC era
melhor do que os agricultores. Os CC tinham uma nutrição superior,
especialmente na infância. A mortalidade infantil foi especialmente elevada nas
aldeias agrícolas durante o tempo de desmame [idade entre 2-4] provavelmente
devido a maiores taxas de doenças, tanto nutricionais e infecciosas.
Nascimento e primeira infância
eram mais perigosas entre os CC do que entre os AG. Cerca de 15 por cento das
crianças morriam antes dos 12 meses de idade entre os CC. Cerca de 8 por cento
das crianças das comunidades agrícolas morriam no primeiro ano. No entanto, no
grupo de 1-3 anos de idade, 20 por cento crianças AG morriam e apenas cerca de
12 por cento de mortes ocorriam entre os CC.
A expectativa de vida em ambos os
grupos era maior entre as mulheres do que entre os homens. A expectativa de
vida média de uma criança recém-nascida entre os CC era consideravelmente maior
[média de 23 anos] do que para uma criança do sexo masculino de um grupo
agrícola [média de 16 anos]. Estas expectativas de vida são calculadas sobre o
agrupamento em material esquelético em intervalos etários. O envelhecimento em
crianças baseia-se na sequência de erupção dos dentes e maturação óssea,
enquanto que em adultos se baseia no desgaste da sínfise púbica e dos dentes.
As crianças de ambos os grupos
experimentaram interrupção no crescimento no meio da infância, como indicado pelas
linhas de Harris [cicatrizes ósseas]. Uma média de 11,3 cicatrizes ósseas foi
encontrada nas tíbias de caçadores-coletores e uma média de 4,1 nos grupos de
agricultores. Nos caçadores, a distribuição de cicatrizes ósseas é muito
regular, indicando que os períodos de fome foram normais e sazonais, talvez a cada
inverno. Nos agricultores, as linhas eram mais aleatórias, indicando que a fome
era irregular, mas, provavelmente, mais grave. Esta hipótese é apoiada pelo fato
de que a hipoplasia do esmalte dos dentes, presentes em ambos os grupos, foi
muito mais sereva entre os AG.
A má saúde dental dos agricultores
era devida, muito provavelmente, ao alto teor de açúcar e consistência macia dos
alimentos cultivados. Os homens adultos tinham uma média de 6,74 cáries e as mulheres
adultas tinham uma média de 8,5 cáries. Os CC adultos tinham uma média de 0,73
cáries para os homens e 0,91 cáries para mulheres. O alto índice de cáries
dentária em agricultores contribuiu para uma grande perda de dentes e
provavelmente elevadas taxas de infecção. Em crianças tais problemas dentários poderiam
ter interferido seriamente com a nutrição e o crescimento.
*"Nutrition and Health in Agriculturalists and Hunter-Gatherers: A
Case Study of Two Prehistoric Populations," in Nutritional Anthropology,
Norge Jerome, Randy Kandel, and Gretel Pelto, eds., Redgrave Publishing Co,
1980, pp. 117-145.
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