Não é incomum associarmos exercício e atividade
física com a imagem de homens e mulheres de aparência estética que a maioria de
nós qualificaria com adjetivos como bonito(a), belo(a), sarado(a) e outros com
o mesmo significado. Sem dúvida este é um fator motivador importante que leva
centenas e milhares de pessoas a participarem de um programa de exercícios ou
iniciarem algum tipo de atividade física.
Nestes diversos anos atuando como profissional da
saúde além de encontrar um grande número de pessoas que iniciaram um programa
de treinamento tendo o emagrecimento como o principal objetivo, também encontrei
pessoas que depois de alguma experiência vivida iniciavam um programa de
treinamento tendo outros objetivos como prioritários. Como exemplo posso citar
pessoas que após um infarto agudo do miocárdio iniciaram a prática de exercícios
com o objetivo de diminuir o risco de uma nova ocorrência cardiovascular e uma
melhora do seu estado de saúde.
Recentemente tive uma experiência pessoal (não foi
um infarto!) que me fez olhar com mais ainda atenção os benefícios advindos da atividade
física e do exercício que não sejam a estética ou o emagrecimento. Por esse motivo
resolvi escrever um texto que tem como objetivo mostrar como o exercício é um poderoso
aliado para alcançarmos e mantermos nossa saúde.
A importância do exercício para a saúde tem sido
relatada há séculos. Hipócrates, considerado por muitos a figura mais
importante da medicina [1] já expressava essa ideia desde 450 a.C.:
“Se pudesse dar a cada indivíduo
a quantidade certa de nutrição e exercício, não muito pouco e não muito, teria
encontrado o caminho mais seguro para a saúde.” [2]
“Caminhar é o melhor remédio para
o homem.” [2]
“Todas as partes do corpo, se
usadas com moderação e exercitadas através de trabalhos as quais estão
acostumadas, tornam-se saudáveis, bem desenvolvidas e envelhecem lentamente.
Mas se elas não são usadas e permanecem ociosas, se tornam susceptíveis às
doenças, à defeitos no crescimento e envelhecem rapidamente.” [3]
“Se houver qualquer deficiência
na alimentação e na prática de exercícios o corpo vai cair doente.” [4]
A conclusão de um extenso trabalho [5] publicado em
2012 deixa claro como esse conceito da atividade física e exercício são
fundamentais para a saúde nos dias de hoje, ela afirma:
“Atividade física, alimentação e
reprodução são alguns dos requisitos mínimos para a vida. Eles não evoluíram
como opções, mas como requisitos para a sobrevivência individual e da espécie.
Os seres humanos têm agora uma escolha de não ser fisicamente ativos. As provas
científicas conclusivas, esmagadoras, em grande parte ignoradas e não
priorizadas, indicam a inatividade física como a causa primária e real da
maioria das doenças crônicas. Assim, a saúde em longo prazo não parece possível
se desconsiderarmos a atividade física como uma necessidade para a
sobrevivência imediata. As evidências abrangentes estabelecem claramente que a
falta de atividade física afeta quase todas as células, órgãos e sistemas do
corpo causando disfunções e morte acelerada. A natureza multifatorial maciça da
disfunção causada pelo sedentarismo significa que, assim como alimentos e
reprodução permanecem como requisitos para propiciarem a existência humana em
longo prazo, a atividade física também é um requisito para maximizar a saúde e
a expectativa de vida. A abordagem terapêutica cientificamente válida das
disfunções do sedentarismo é a prevenção primária com a própria atividade
física.”
Existem evidências suficientes para considerarmos que
a aptidão cardiorrespiratória gerada pelo exercício seja uma ferramenta de
prevenção e tratamento de doenças cardiovasculares [6,7]. O exercício quando
realizado em intensidade e volume adequado é capaz de auxiliar na diminuição da
quantidade de gordura visceral, da obesidade e do risco de diabetes tipo 2 [8].
O papel preventivo da atividade física pode ser estendido
para alguns tipos de câncer. A associação é mais forte nos homens do que nas
mulheres para o câncer do cólon, assim como para as mulheres que já estão na menopausa
do que para aquelas que ainda mantêm a menstruação para o câncer da mama. A
evidência sugere que a atividade física provavelmente reduz o risco de câncer
do endométrio, de pulmão, de cólon, de mama e de próstata [9]. A análise de diferentes
trabalhos observacionais [10] que incluíram 1.500.000 pessoas demonstrou que a
atividade física pode reduzir o risco de câncer de estômago. Já para o câncer
do pâncreas atividade física apresenta uma capacidade protetiva fraca [11].
A osteoporose e fraturas relacionadas resultam em
grandes custos para os indivíduos e para a sociedade, além do aumento da
morbidade e mortalidade. A atividade física é uma estratégia viável para a
prevenção e para o tratamento da redução da massa óssea [12].
As informações citadas até aqui apoiam o papel que
a inatividade física desempenha no desenvolvimento de doenças crônicas e morte
prematura. Existem provas da eficácia da atividade física regular na prevenção
primária e secundária de doenças cardiovasculares, diabetes, câncer, hipertensão,
obesidade e osteoporose [13]. Essas evidências também apoiam uma redução de 50%
no risco de morte causada por diferentes doenças [13].
O exercício físico também apresenta influência
sobre o estresse e a ansiedade. Um trabalho que analisou 7 estudos
experimentais demonstrou que o Qigong, uma modalidade chinesa de exercício, é
capaz de reduzir o estresse e a ansiedade de adultos saudáveis [14].
Estas informações ilustram a importância do combate
ao sedentarismo, da prática de atividade física e do aprimoramento da aptidão
cardiorrespiratória através da participação em programas de treinamento para a
melhora da saúde e da redução de morte prematura. As autoridades de saúde pública e as agências
de financiamento deveriam considerar como vital a tarefa de incentivar efetivamente
que a população em geral pratique exercícios ou qualquer tipo de atividade
física, isso é sem dúvida uma questão crucial.
Carlinhos
treinamentocarlinhos@gmail.com
Referências