quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Insulina! Boa ou Ruim?

Na minha última postagem sugeri que vocês leitores assistissem um vídeo que fala sobre o tema resistência a insulina. Nesse vídeo o Dr. Peter Attia fala sobre a possibilidade de que uma desregulação do sistema hormonal que envolve a insulina venha a ser a causa da obesidade e de outros problemas de saúde.

Essa postagem foi publicada no dia 19/1/15, no dia 20/1 encontrei uma postagem em blog chamado Fat New World que aborda essa desregulação da insulina. O título é Insulina - amigo ou vilão? Efeito no tecido adiposo castanho.

Nota: Tecido adiposo marrom é também conhecido como gordura marrom é um dos dois tipos de gordura existente nos mamíferos. É especialmente abundante em recém-nascidos e em mamíferos que hibernam e sua função principal é manter o calor corporal, em animais ou recém-nascidos que não tremem.  comparada com o outro tipo de gordura [a branca] uma quantidade maior de partículas de lipídios e de mitocôndrias, que contêm ferro e geram a coloração marrom ou castanha.

O blog Fat New World é escrito por um autor português e por essa razão resolvi reproduzir o texto na íntegra. 

No primeiro parágrafo ele fala sobre quando a insulina pode gerar alterações não desejadas, mas relembra que quando não há desregulação hormonal seus efeitos são positivos.

No segundo parágrafo ele explica o efeito anabolizante da insulina, efeito que pode ser bom ou ruim!

No restante do texto ele fala sobre os efeitos da insulina sobre a gordura marrom e saúde.

Caso você não tenha tempo de ler todo o texto agora, eu antecipo o resumo.

"Resumindo, a insulina não é um vilão. Ela ajuda-nos quando a ajudamos a ela, e quando não lhe pedimos demais. É essencial para estimular processos que aumentam o dispêndio energético e promovem saciedade. Os problemas começam quando a resistência à insulina se instala, e aqui a nutrição tem uma palavra a dizer, se não a mais importante. Actua não só na prevenção mas também no tratamento, quando necessário. Se tratarmos bem das nossas hormonas, elas tratam bem de nós."

Espero que apreciem a leitura!

Carlinhos
treinamentocarlinhos@gmail.com

Insulina - amiga ou vilão? Efeito sobre o tecido adiposo marrom.


Muito temos ouvido sobre os efeitos nefastos da insulina. A insulina engorda... A insulina inflama... A insulina isto e aquilo, etc, etc. Apesar de haver um traço de verdade em tudo isto, a insulina está longe de ser uma hormona que trabalha contra nós. Antes pelo contrário. Os problemas surgem é quando ela não funciona devidamente, o que infelizmente é bem comum hoje em dia. Aquilo a que chamamos resistência à insulina. Quando tudo funciona bem, algumas das suas acções são precisamente promover saciedade, e também o gasto de mais energia.

A insulina é uma hormona anabólica, e isto é verdade tanto para o músculo como para o tecido adiposo. E aqui quando falamos em anabolismo, falamos em ganhar gordura. Uma das funções da insulina é precisamente reservar os ácidos gordos dentro dos adipócitos. Não é exactamente o que precisamos. Mas como é regra na Biologia Humana, a dose faz o veneno. Se estivermos expostos a níveis cronicamente elevados de insulina, então temos problemas. Se tudo funcionar como devido, tudo ok mesmo comendo os nossos hidratos de carbono. Mas é verdade também que existe uma capacidade inter-individual muito variável a lidar com a glicose, e isso é ditado pela nossa genética, epigenética, metabolismo, e factores ambientais que funcionam como triggers de processos deletérios já subjacentes, ou não. Mais uma vez, cada caso é um caos [caso].
Mas escrevo este artigo por outro motivo. Um artigo publicado recentemente na prestigiada revista Cell (pelo menos para quem como é "das bioquímicas" e dessas coisas que são as células) mostra-nos que a insulina actua também a nível do sistema nervoso central no sentido de estimular a conversão de células gordas brancas em castanhas. E o que são estas células? Enquanto o tecido adiposo branco é essencialmente um local de reserva de energia (e secreção de adipocinas como a leptina), o tecido adiposo castanho é um local de gasto de energia. Durante muitos anos se pensou que a quantidade de tecido adiposo castanho num adulto era negligenciavel, e que praticamente todo era perdido após o período neonatal ficando resumindo a uma região confinada na escapula. No entanto, sabendo-se hoje que apenas 50 g podem aumentar o gasto energético diário em 20%, a palavra "negligenciável" foi posta de parte e a investigação de ponta no tratamento da obesidade centra-se aqui - transformação do tecido adiposo branco em castanho, ou na verdade numa forma com características intermédias. Estima-se que 1 em cada 400 adipócitos possam ter estas características.
Que a leptina fazia isto já se sabia, mas a mesma acção não estava ainda caracterizada para a insulina. Mas que estranho... Uma hormona que engorda faz com que gastemos mais energia. Não faz sentido! Se calhar faz se deixarmos esse paradigma de lado. A insulina, a trabalhar devidamente, funciona a nosso favor e não contra nós. Mantém a glicemia estável, promove saciedade, e aumenta o dispêndio energético. Tal como a leptina, a insulina é de alguma forma também um sensor das reservas de energia. A leptina das reservas existentes, a insulina das reservas futuras. Quanto tudo isto funciona bem, ambas actuam em concerto como um lipostato, um mecanismo que mantém o nosso peso corporal estável ao longo do tempo - o chamado set-point. O problema é quando este set-point se desloca para onde não queremos...
Uma das principais razões para a insulina não funcionar de forma eficiente é a resistência que se gera. A inflamação é um dos principais processos associados à deterioração da função da insulina, se não o qual onde todos culminam. Um deles é o chamado stress de retículo endoplasmático, um nome pomposo para um processo degenerativo que se inicia quando uma célula não dá conta do recado. Quando as solicitações são mais do que a capacidade de resposta. Um pouco como o que acontece conosco. Entramos em crash, tal como a célula. Um dos intermediários deste "crash" é uma proteína chamada PTP1B (fosfatase de tirosina), identificada neste estudo como o bloqueador da acção da insulina a nível do sistema nervoso central. Ficam abertas portas para novas respostas terapêuticas, farmacológicas ou não. 
A PTP1B actua desactivando a cascata de fosforilação em resposta à insulina. Imaginem a hormona a ligar ao receptor, e um mecanismo a montante que termina essa sinalização. Como um furo na canalização que torna o fluxo mais lento, que resulta numa resposta atenuada e menos eficiente. Tendo em conta que a curcumina (açafrão) [link], gingerol (gengibre), e extrato de canela [link] são conhecidos inibidores da PTP1B, trata-se de mais um mecanismo pelo qual estes compostos podem ajudar na resistência à insulina. Mas há mais... A actividade da PTP1B é altamente regulada por mecanismos redox, e a oxidação da PTP1B inibe a sua acção. Por outras palavras, a oxidação é necessária para controlar a sua actividade, e é por isto que a toma de anti-oxidantes pode, em alguns casos e doses, provocar resistência à insulina [link]. O Selénio, um antioxidante (glutationa peroxidase) bem conhecido, pode aumentar a actividade da PTP1B. Isto não parece bom, mas leva-nos ao conceito de hormese. Nem sempre mais é melhor, e em Metabolismo isto aplica-se como regra geral. Isto fica para outro artigo. Devemos administrar antioxidantes exógenos em grandes quantidades ou garantir apenas que o nosso sistema antioxidante funciona devidamente?
Resumindo, a insulina não é um vilão. Ela ajuda-nos quando a ajudamos a ela, e quando não lhe pedimos demais. É essencial para estimular processos que aumentam o dispêndio energético e promovem saciedade. Os problemas começam quando a resistência à insulina se instala, e aqui a nutrição tem uma palavra a dizer, se não a mais importante. Actua não só na prevenção mas também no tratamento, quando necessário. Se tratarmos bem das nossas hormonas, elas tratam bem de nós.
Garron T. Dodd, Stephanie Decherf, Kim Loh, Stephanie E. Simonds, Florian Wiede, Eglantine Balland, Troy L. Merry, Heike Münzberg, Zhong-Yin Zhang, Barbara B. Kahn, Benjamin G. Neel, Kendra K. Bence, Zane B. Andrews, Michael A. Cowley, Tony Tiganis. Leptin and Insulin Act on POMC Neurons to Promote the Browning of White FatCell, 2015; 160 (1-2): 88

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

E se a medicina estiver olhando para o lado errado!?

A palestra que sugiro a vocês que assistam não é nova, ela é de abril do ano passado. Nela vocês iram ouvir o Dr. Peter Attia [já citei ele em uma outra postagem, veja aqui] falar sobre o desprezo que sentiu por uma paciente com diabetes que estava acima do peso e "portanto era responsável pelo fato de precisar amputar o pé". Porém anos depois ele também se tornou um paciente e descobriu que seu entendimento sobre diabetes poderia estar errado. Nessa palestra ele fala sobre uma abordagem da medicina que pode estar nos levando a olhar para o lado errado da obesidade e da diabetes.

Realmente vale muito a pena assistir!


Para assistir a palestra clique aqui! São 16 minutos!

Carlinhos
treinamentocarlinhos@gmail.com

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Recomendações alimentares para 2015 continuam as mesma!?

No dia de dezembro de 2014 foi publicada uma matéria em um blog sobre saúde do jornal o Estadão, a matéria pode ser acessada clicando aqui, que fala sobre os motivos que nos levam a evitar 10 tipos de alimentos.

Apresento para vocês os 10 alimentos, que segundo a nutricionista consultada, devem ser esquecidos em 2015, assim como os motivos para isso.

Refrigerante: Esse é o tipo de alimento que possui o que chamamos de “caloria vazia”. São ricos em calorias e pobres em nutrientes. Apresenta uma grande quantidade de açúcar e sódio, que, em excesso, pode levar ao aumento da pressão arterial e a problemas renais. Mesmo os refrigerantes zeros em açúcar causam danos à saúde, pois a quantidade de sódio costuma ser bem maior comparada ao refrigerante comum.
Biscoitos  e salgadinhos de milho: Apresentam uma quantidade grande de sódio, além de produtos químicos, que podem causar alergias, e agredirem a mucosa gástrica e intestinal.
Temperos industrializados: Possuem um teor de sódio altíssimo, muitas vezes equivalente às necessidades de sódio para um único dia. Além disso, são ricos em corantes, conservantes e outros agentes químicos, que em excesso se tornam nocivos à saúde. A melhor opção é sempre utilizar os temperos naturais, como as ervas e especiarias.
Macarrão instantâneo: o macarrão é rico em gordura e calorias. Os temperos utilizados são ricos em sódio, muitas vezes possuindo uma quantidade maior que a estipulada para o dia todo, além de produtos químicos, que agridem o trato gastrointestinal e causam alergias.
Biscoitos recheados: Oferecem grande quantidade de calorias e gorduras, principalmente a gordura trans, que traz grandes prejuízos à saúde, como o aumento do colesterol ruim e a redução do colesterol bom. Prefira os biscoitos sem recheio e, sempre que possível, os integrais.
Alimentos congelados: Apresentam grande quantidade de sódio, calorias, conservantes entre outros produtos químicos. Além disso, muitos são feitos com farinha branca, que é absorvida de forma mais rápida, fazendo com que a fome apareça em pouco tempo.
Sorvetes industrializados: São ricos em calorias, açúcar, gorduras, principalmente a trans, produtos químicos e pobres em nutrientes. Dê preferência aos picolés de frutas, pois são menos calóricos e contêm vitaminas e minerais.
Embutidos: Os alimentos embutidos como salsichas, linguiças, mortadela e presunto são extremamente gordurosos e ainda oferecerem uma enorme quantidade de sódio e de produtos químicos.
Batata frita: O grande problema da batata ocorre quando ela é submetida a altas temperaturas, que provocam grandes modificações em sua molécula, agregando um alto teor de gordura. Quando a batata é industrializada, a mesma já vem com uma grande quantidade de gordura e, após a fritura, este valor fica ainda mais elevado. Uma opção é fazer a batata natural assada no forno, podendo fazer em corte chips.
Bacon: Este tipo de carne processada oferece uma quantidade altíssima de gordura saturada (gordura ruim), que leva a um aumento significativo do colesterol ruim, além de poder causar inflamação nas artérias, levando ao comprometimento cardíaco”.

Bem! assinalei em amarelo as causas mais citadas para que esses alimentos sejam evitados. O sódio aparece como o principal vilão juntamente com as gorduras, principalmente a gordura saturada e
trans e nessa turma também aparece o açúcar.

Normalmente as pessoas usam a virada do ano para inciar novos projetos ou modificar seus hábitos e muitas vezes usam informações como as vinculadas nessa matéria como norte para essas mudanças. Por isso essa matéria merece alguns esclarecimentos.

Eu realmente concordo que devemos excluir alimentos como refrigerantes, salgadinhos, sorvetes, batata frita em gordura trans e macarrão instantâneo pois esses não são comida de verdade. Já o bacon e os embutidos são alimentos que não precisam ser colocados nessa categoria.

Quando tratamos a gordura saturada encontrada nas carnes, ovos e laticínios e as gorduras trans originadas de sementes como a mesma coisa estamos cometendo um grande erro científico. Aqui mesmo nesse blog e em outros [que podem ser acessados no menu links] já foi escrito "um milhão de vezes" que a gordura natural dos alimentos não gera malefícios para a saúde.

A gordura saturada pode até mesmo ser considerada como protetora contra problemas cardiovasculares. Se você quer entender como isso acontece, leia a excelente postagem escrita pelo Dr. Souto sobre chamada:

A gordura saturada não está associada a risco nem mesmo em que já tem doença coronariana


Novamente o sódio também é apontado como uma grave problema para a saúde, porém essa afirmação não representa uma verdade científica.

Em outubro de 2014 escrevi uma postagem [veja aqui] onde explico por qual motivo muitas recomendações sobre a redução nos níveis de sódio não se justificam do ponto de vista científico e também que essa redução não gera diminuição da pressão arterial de hipertensos.

Para reforçar essa idéias em 8/1/2015 um novo trabalho foi publicado.

The wrong white crystals: not salt but sugar as aetiological in hypertension and cardiometabolic disease [link]

A seguir traduzo os principais pontos.

O que já se sabe sobre este assunto?
▸ A doença cardiovascular é a principal causa de mortalidade prematura no mundo desenvolvido, e hipertensão é o seu fator de risco mais importante.
▸ Controlar a hipertensão é um dos principais focos das iniciativas de saúde pública, e abordagens dietéticas historicamente focadas no sódio.

O que pode este estudo acrescentar?
▸ As fontes predominantes de sódio na dieta, alimentos processados, geralmente também possuem elevados níveis de açúcares, cujo consumo pode estar diretamente relacionado com hipertensão e riscos cardio metabólicos.

Que impacto este trabalho gera na prática clínica?
▸ Os médicos devem mudar o foco do sal e concentrar maior atenção ao açúcar.
▸ Uma redução na ingestão de açúcares adicionados, particularmente frutose, e especificamente nas quantidades nos alimentos industrializados, ajudaria não só na redução das taxas de hipertensão, mas também poderia ajudar a resolver problemas mais amplos relacionados com as doenças cardíacas e metabólicas.

Concordo que grande maioria dos alimentos citados na matéria devem ser evitados, mas não pelas causas citadas, e sim por não serem alimentos de verdade e também possuírem grandes quantidade de açúcar.

Como a ciência vem mostrando, evitar alimentos que tenham muita frutose e que elevam a glicose sanguínea é uma estratégia eficaz para saúde e emagrecimento.

Abraços...Carlinhos
treinamentocarlinhos@gmail.com