quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Exercício, Trabalho e Negócios.

Em novembro de 2015 escrevi uma postagem com o título de Exercício, Estilo de vida, Família e Negócios, nela tornar o exercício e um estilo de vida saudável como prioridade em relação a outros aspectos de nossa vida. Mas é óbvio que é necessário um equilíbrio entre todas as nossas prioridades e cada um de nós tem o livre arbítrio de considerar um ou outra como as mais importantes.

Recentemente através do Facebook recebi de um grande amigo a recomendação de leitura de um texto escrito por Josh Steimle, empresário do ramo de marketing (www.mwi.com) e colaborador do site Entrepreneur.

O texto recomendado se chama Why Exercising Is a Higher Priority Than My Bussiness, fiz uma tradução e agora apresento para vocês. Resolvi publicar esse texto, pois ele trata de um dos aspectos abordados na postagem Exercício, Estilo de vida, Família e Negócios, a relação entre exercício e trabalho.


Boa leitura!


Por que o exercício é uma prioridade maior do que o meu negócio!?

Existe uma atitude prevalente entre os empresários de que os negócios sempre vem em primeiro lugar, independente do tipo de negócio. É uma prioridade que supera todo o resto, incluindo a família, os amigos e especialmente a saúde.

Eu vi os empresários sacrificarem todas essas coisas, às vezes com consequências trágicas, para se concentrar em fazer que seus negócios sejam bem sucedidos. Eu também fiz isso, embora eu tenha sido um sortudo. Durante os anos que eu fiz do meu negócio a minha maior prioridade (minha esposa estava ao meu lado), isso não me causou nenhum dano permanente em relação as minhas amizades (embora eu certamente não nutrido nenhuma delas) e também não morri.

Não é a ganância que nos motiva como empresários. Seria difícil justificar os sacrifícios que fazemos mesmo que a única recompensa seja o dinheiro. Dólares se tornam meros pontos em uma espécie de jogo. O que é realmente se está fazendo é construir algo grande, fazer algo que importa e tentar mudar o mundo. Isso é o que torna tão fácil de jogar outras coisas fora. Mas é um erro. 

Agora eu sei disso! E é por isso que hoje eu me importo mais com o exercício do que com o meu negócio. Mas não é fácil.


Eu tenho um negócio em crescimento, com 14 colaboradores. Estes homens e mulheres confiam em mim para garantir que seus salários serão pagos no final do mês, que os benefícios estarão disponíveis para eles e suas famílias e que os obstáculos serão removidos para que eles possam fazer o seu trabalho. Tenho cerca de 40 clientes, que estão dependendo de mim para se certificar de que os resultados que irão ajudar os seus negócios a crescer serão obtidos.

Isso se soma a uma série de tarefas e muita pressão. Em um determinado dia acontecem 100 coisas importantes que eu deveria dar atenção, 50 dos quais também são urgentes, mas não há nenhuma maneira que eu possa fazer mais de 10 dessas coisas. E ainda a cada semana eu dedico pelo menos 10 horas para o exercício físico.

Eu organizo meus treinamentos durante a jornada de trabalho e priorizo o exercício e não as minhas atividades de trabalho. Existe alguma flexibilidade, mas se houver um conflito, como uma reunião com um cliente, eu vou primeiramente tentar remarcar a reunião. Eu faço isso porque eu e minha empresa podemos sobreviver as consequências da troca de horário de uma reunião com um cliente, mesmo que isso signifique perder esse cliente. Mas se eu começar a “matar” os treinos, eu vou começar a faltar aos treinamentos de forma rotineira, e uma vez que eu comece a faltar aos treinamentos, eu estarei perto de parar o programa de treinamento completamente.

Se eu parar de me exercitar, então minha saúde irá declinar. Com a perda da saúde física minha produtividade no trabalho vai diminuir. Ficarei deprimido. Perderei a motivação para fazer as coisas que fazem meu negócio prosperar. Eu aprendi em primeira mão que a excelência em uma área da minha vida promove a excelência em todas as outras. O exercício é a área mais fácil de controlar na minha vida. É fácil de medir. Eu treino ou não treino. Quando eu treino, ele se coloca a frente todas as outras áreas da minha vida, incluindo o meu negócio.

Por um longo tempo, eu estava enganado em pensar que, se o meu negócio não era a prioridade número um, então isso significava que eu não estava fazendo tudo o que eu poderia fazer para torná-lo bem sucedido. Esta é uma maneira compreensível de pensar, mas esta completamente errada.

Se a minha vida é composta de 10 prioridades, não é tão simples tornar o negócio a prioridade número dois e o exercício a número um e esperar que com que isso o negócio se beneficie. O truque é descobrir qual ordem de prioridades fornece o benefício global máximo.

Por exemplo, quando me exercito, isso faz com eu cumpra melhor cada um dos papeis que eu tenho, seja como marido, pai, amigo ou empresário. Se eu tivesse que parar de me exercitar porque eu senti que ser um bom empresário é uma prioridade maior, em seguida, ironicamente, eu iria acabar um empresário pior do que eu era quando ser empresário era uma prioridade menor. Colocar exercício em primeiro lugar cria um “círculo de vitória”.


A medida que meu negócio cresce, vejo membros da minha equipe cair na mesma armadilha. É por isso que estamos trabalhando para instituir incentivos para a saúde, e por isso que eu não tenho vergonha de falar sobre o tempo em que colocava o negócio em primeiro lugar. Eu sei que, se meus membros da equipe colocarem o exercício e a saúde na frente se seus de seus empregos, eles poderão trabalhar menos horas, mas eles vão se sentir melhor em relação a si mesmo, terão mais vidas completas e eles irão produzir melhores resultados com as horas que eles dedicam ao trabalho.

Carlinhos
treinamentocarlinhos@gmail.com
contatometodoevolutivo@gmail.com

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Treinamento Evolutivo – Parte 1

Essa é a primeira postagem de 2016, estive um pouco afastado do “ato” escrever devido às festividades de natal e ano novo, como também pela carga de trabalho do inicio de janeiro. Espero que todos vocês tenham um excelente ano de 2016.

Na primeira postagem de 2016 quero tratar de um assunto que já abordei anteriormente (aqui), como devemos treinar considerando uma abordagem evolutiva? Para isso usarei como base um artigo chamado Do Olympic Athletes Train as in the Paleolithic Era? [1].  O objetivo desta primeira parte é contextualizar a ideia central deste tema, que é usar a abordagem evolutiva para criar um programa de treinamento para saúde, condicionamento físico e desempenho.


Tem sido sugerido que o estilo de vida caçador-coletor adotado pelos nossos ancestrais humanos gerava uma grande necessidade das atividades físicas aeróbicas (AFA), o que também pode ter influenciado a neurobiologia humana. Um trabalho de revisão da literatura [2] abordou uma nova hipótese que liga a AFA realizada durante nossa evolução a possíveis alterações neurobiológicas. A evidência para esta relação evolutiva inclui dados que ligam a capacidade aeróbica ao tamanho do cérebro, as neurotrofinas e a outros fatores de crescimento. Essa hipótese também se apoia em experimentos evolutivos detalhando como seleção para o desempenho aeróbico isoladamente pode ter afetado a neurobiologia. Este conjunto de informações embasa uma nova hipótese na qual a neurobiologia humana foi influenciada por nossa história evolutiva como atletas de endurance [de resistência ou longa duração].

Assim, as características hereditárias de nossa espécie são, teoricamente, aquelas que se encaixam melhor com as demandas de sobrevivência exigidas pelo meio ambiente, já que estas características são o produto de milhões de anos de interação gene-ambiente. As evidências científicas sugerem que as modernas doenças metabólicas e cardiovasculares estão relacionadas com a alteração no estilo de vida humana que ocorreu nos últimos séculos, a troca de um estilo de vida fisicamente ativo em ambiente natural ao ar livre para um estilo de vida sedentário em ambientes fechados está na raiz de muitas das doenças crônicas presentes atualmente [3]. A inatividade física aumenta o risco relativo de doença arterial coronariana em 45%, acidente vascular cerebral em 60%, hipertensão em 30% e osteoporose em 59% [4] e a solução para isso parece estar em simular o padrão de atividade humana ancestral considerando o modo de exercício, a duração, a intensidade e a frequência que estão relacionadas com nosso genoma [3].

O novo estilo de vida pode ter interrompido as informações genéticas da nossa espécie e os requisitos ambientais para a nossa sobrevivência, mesmo que a nossa herança genética não tenha sido alterada significativamente desde o Paleolítico já que nossos ancestrais viveram como caçador-coletores por 84.000 gerações [5]. As adaptações selecionadas para a sobrevivência durante o período da evolução podem ter se tornado adaptações ruins sob a atual mudança ambiental da atividade física, ou seja, inatividade [4].

Esta dissonância entre a condição ambiental da Idade da Pedra e o ambiente moderno é a base da chamada hipótese da incompatibilidade que tem sido utilizado pela medicina evolutiva para explicar as doenças modernas.  Williams & Nesse [6] explicam que a evolução por seleção natural tem sido por muito tempo uma fundação para a ciência biomédica, que recentemente ganhou novo poder para explicar muitos aspectos das doenças. Este paradigma de investigação pode ser considerado cada vez mais significativo para prever as facetas da biologia humana e fornecer novas pistas sobre as causas das desordens médicas, tais como infecções, lesões, toxinas, fatores genéticos e ambientes anormais [6].

Embora a relação entre a herança genética, estilo de vida e saúde pareça clara, os pesquisadores dão menos atenção para a possível influência da nossa carga genética nas adaptações fisiológicas ao treinamento atlético e subsequente desempenho esportivo. A genética do esporte é um campo em crescimento, o que tem proporcionado informações importantes sobre carga genética específica para uma maior capacidade de resposta às várias modalidades físicas e desportivas. As características individuais que podem ser observadas e são consequência da expressão genética de uma pessoa (fenótipo) como força muscular, massa corporal magra, elasticidade dos tendões, tamanho do coração e dos pulmões influenciam o desempenho físico [7]. Este tipo de influência foi demonstrado pela primeira vez a cerca de 15 anos atrás [8] quando alterações genéticas de uma enzima conversora de angiotensina, que está envolvida no controle do volume de líquido extracelular e da pressão arterial, foram associadas a uma maior capacidade de desempenhos que envolvam atividades de endurance/resistência. Outro exemplo é a influência do gene receptor de vitamina D sobre a força de mulheres antes e após a menopausa e também em homens idosos [8].


No entanto, a ligação entre os genes, tipo de treinamento e o desempenho esportivo pode ser limitada, como foi demonstrado em um estudo [9] onde a melhora da capacidade aeróbica máxima foi avaliada após diferentes protocolos de treinamento que foram determinados com base nas características genética dos participantes. Cerca de 20% dos indivíduos tiveram uma melhora menor do que 5%.

Em alternativa, pode ser interessante analisar as evidências ligando estímulos de treinamento e as respostas fisiológicas com o padrão de atividade física que moldou o genoma humano através das pressões da seleção natural. Em outras palavras, uma hipótese atraente pode ser que as atividades que favoreceram a sobrevivência realizadas durante o Paleolítico podem gerar as melhores adaptações fisiológicas e consequentemente o um melhor desempenho do que programas de treinamento que desconsiderem essa abordagem evolutiva [10].



Caso consideremos a abordagem evolutiva para formatação de um programa de treinamento, uma resposta genética adequada ao treinamento com características semelhantes às atividades físicas realizadas pelos nossos ancestrais caçador-coletores pode ser esperada. Isso gera a necessidade de caracterizar a formatação desse programa de treinamento com base evolutiva.  Em postagens futuras tratarei da forma mais detalhada sobre essa formatação.

Carlinhos
treinamentocarlinhos@gmail.com

Referências
  1. Boullosa DA, et al. 2013. Do Olympic Athletes Train as in the Paleolithic Era?
  2. Raichlen DA, Polk JD. 2013. Linking brains and brawn: exercise and the evolution of human neurobiology.
  3. O’keefe JH et al. 2010. Achieving hunter-gatherer fitness in the 21(st) century: back to the future.
  4. Booth FW, Lees SJ. 2007. Fundamental questions about genes, inactivity, and chronic diseases.
  5. Fenner JN. 2005. Cross-cultural estimation of the human generation interval for use in genetics-based population divergence studies.
  6. Williams GC, Nesse RM. 1991. The dawn of Darwinian medicine.
  7. Puthucheary Z, et al. 2011. Genetic influences in sport and physical performance.
  8. Puthucheary Z, et al. 2011. The ACE gene and human performance: 12 years on.
  9. Timmons JA, et al. 2010. Using molecular classification to predict gains in maximal aerobic capacity following endurance exercise training in humans.
  10. Boullosa DA, et al. 2010. Effectiveness of polarized training for rowing performance.