Introdução
São inúmeras as recomendações para
que as pessoas participem de programas regulares de exercícios para que a
qualidade de vida seja aumentada e o risco de mortalidade seja diminuído. Uma
relação inversa entre o nível de aptidão física cardiovascular e o aumento da
expectativa de vida já foi demonstrada tanto para atletas profissionais [1]
como para a população em geral [2].
A Organização Mundial da Saúde
recentemente divulgou [3] que a doença arterial coronariana continua a ser a
principal causa de morte ao redor do mundo, sendo responsável por cerca 7,5
milhões de morte o que representa 12,8% das mortes no mundo. A principal patologia
associada com doença arterial coronariana é a lesão gerada pela perfusão
sanguínea após um evento isquêmico (interrupção do suprimento de sangue para um
determinado tecido corporal), chamada de lesão por reperfusão isquêmica (IR).
Os danos gerados as células de um tecido que passou por um período de isquemia
vão depender do tempo em que o fluxo de sangue foi interrompido e muitas das
lesões ocorrem no momento em que o fluxo de sangue é restabelecido [4].
Retirado da referência 14 |
As informações atuais indicam que
a forma mais eficaz de alcançarmos efeitos cardioprotetores com um programa de
exercícios é quando estes programas combinam exercícios de resistência
cardiovascular e também exercícios resistidos para o desenvolvimento de força
muscular [5]. O treinamento da aptidão cardiovascular pode envolver
treinamentos contínuos como intervalados.
O que seria essa “cardioproteção”?
Em teoria, a “cardioproteção”
induzida pelo exercício pode ser conseguida através qualquer adaptação
fisiológica que atenue um ou mais dos eventos prejudiciais que ocorrem no
coração durante o episódio de IR. Por exemplo, através de modificações nas
artérias coronárias (vasos sanguíneos que suprem o coração) que levem ao aumento
da circulação colateral e/ou alterações intrínsecas fibras musculares do
coração que assim resistiriam às lesões celulares que ocorrem durante um evento de IR [5].
Quais os detalhes importantes de um programa de exercícios para que um
efeito “cardioprotetor” seja gerado?
Intensidade (Nível de Esforço)
Os estudos realizados em animais
demonstraram que tanto intensidades de 50% da capacidade aeróbica máxima
(VO2max) como também intensidades de 70% do VO2max podem gerar alterações
benéficas [6].
Forma de Treinamento Cardiorrespiratório
O treinamento cardiorrespiratório
pode ser realizado de forma contínua ou intermitente (intervalada), trabalhos
com animais demonstraram que tanto sessões de contínuas de 30-90 minutos como
sessões intervaladas são capazes de gerar alterações relacionadas à
“cardioproteção” [7].
Importância da Regularidade
Embora a cardioproteção induzida
pelo exercício possam ser alcançados rapidamente estudos com animais revelam
que a cardioproteção induzida pelo exercício é perdida em um curto período de
tempo (dentro de 9 a 18 dias) após a interrupção do exercício físico [8], assim
como acontece com variáveis como força, capacidade funcional [9] e também
composição corporal [10].
Treinamento de Força e Cardioproteção
As modalidades de exercício que
levam ao aprimoramento da força e resistência muscular estão relacionadas com
alterações positivas para a saúde. Entre elas podemos citar melhoras na
densidade mineral óssea [11] e diminuição da gordura visceral [12]. Quando falamos
da possibilidade de que o treinamento de força também gere um efeito
cardioprotetor um estudo realizado com animais mostrou doze semanas de
treinamento de força com aproximadamente 70% da carga máxima faz com que os
danos de uma lesão IR sejam menores em ratos treinados do que em ratos
sedentários [13].
Natureza Invasiva do Estudo da Cardioproteção
Quase todo conhecimento que temos
sobre a cardioproteção foi obtido através do estudo com animais [6-8, 13, 14].
Isso acontece devido à característica invasiva dos trabalhos com esse objetivo,
que geram a necessidade de indução de isquemia cardíaca [13], o que não seria
possível com humanos devido às questões éticas envolvidas. Os estudos com animais
podem ser considerados válidos, pois a estrutura do coração entre as espécies de
mamíferos são bastante semelhantes [5]. Os estudos observacionais com humanos demonstram
que o exercício pode gerar efeitos de proteção ao coração através de alterações
celulares capazes de diminuir os danos gerados por uma lesão IR [15]
semelhantes as que acontecem com animais [14].
Considerações Finais
Os profissionais da saúde
envolvidos com os cuidados primários podem desempenhar um papel importante
encorajando as pessoas, principalmente as com elevado risco cardiovascular, a
se exercitarem de forma adequada para que as alterações relacionadas com “cardioproteção”
sejam atingidas. Podemos dizer que a participação em programas de exercício
regular juntamente com a redução do risco de doenças cardiovasculares é a melhor
forma de diminuir a morbidade e mortalidade geradas pelas lesões IR.
Referências
- Sanchis-Gomar F, et. al. 2001. Increased average longevity among the "Tour de France" cyclists.
- Kokkinos P, et. al. 2008. Exercise capacity and mortality in black and white men.
- News Med Br. 2015. OMS divulga as dez principais causas de morte no mundo.
- Sival Jr OC, et. al. 2002. Aspectos Básicos da Lesão de Isquemia e Reperfusão e do Pré-Ccondicionamento Isquêmico.
- Wiggs MP, et. al. 2015. Exercise Can Protect against a Broken Heart
- Lennon SL, et al. 2004. Exercise and myocardial tolerance to ischaemia-reperfusion.
- Libonati JR, et al2005. Sprint training improves postischemic, left ventricular diastolic performance.
- Lennon SL, et al. 1985. Loss of exercise-induced cardioprotection after cessation of exercise.
- Correa CS, et . al. 2015. Effects of strength training, detraining and retraining in muscle strength, hypertrophy and functional tasks in older female adults.
- Hong SM, et. al. 2014. Effects of detraining on motor unit potential area, muscle function and physical performance based on CNTF gene polymorphism.
- Elsisi HF, et. al. 2015. Electro magnetic field versus circuit weight training on bone mineral density in elderly women.
- Mekary RA, et. al. 2015. Weight training, aerobic physical activities, and long-term waist circumference change in men.
- Soufi FG, et. al. 2011. Role of 12-week resistance training in preserving the heart against ischemia-reperfusion-induced injury.
- Powers SK, et al. 2014. Mechanisms of exercise-induced cardioprotection.
- Ignarro LJ, et al. 2007. Nutrition, physical activity, and cardiovascular disease: An update