Na minha prática profissional inúmeras vezes tenho contato
com alunos com excesso de peso ou obesidade, nessa situação explico da
necessidade de redução do peso e da quantidade de gordura corporal, assim como cito
os benefícios dessas alterações em relação aos riscos para a saúde.
Muitas vezes estes alunos fazem o seguinte comentário:
“Minha intenção é
qualidade de vida, não quero virar modelo ou ficar sarado, pois meu médico
disse que meus exames estão todos normais.”
Essa afirmação diversas vezes essa é a justificativa para
iniciar um programa de exercícios sem a realização de alterações na
alimentação, pois mesmo o individuo estando acima do peso ou obeso seus exames
são normais e seu risco não é elevado.
Indivíduos obesos que parecem estar protegidos contra o
surgimento de alterações metabólicas são muitas vezes identificados na
literatura médica como Obesos
Metabolicamente Saudáveis [Metabolically Healthy
Obese – MHO]3-8-11-13-21.
A classificação de uma pessoa como MHO é feita através de
índices metabólicos como resistência à insulina e risco cardiorrespiratório
baseado na pressão arterial, perfil lipídico e glicose1-4-6-7-8 e
pela distribuição anatômica da gordura corporal5.
Essa interpretação é baseada no fato de que alguns trabalhos
demonstraram que essas pessoas apresentam menores riscos do que pessoas obesas
com alteração metabólicas [Metabolically Abnormal Obese – MAO]3-14-16-17-18,
riscos semelhantes às pessoas com peso normal e metabolicamente saudáveis [Metabolically
Healthy Normal Weight – MHNW]2 ou às pessoas com peso normal mas com
alterações metabólicas19.
Dentre essa redução de risco temos a menor probabilidade de
diabetes3, arterosclerose17 e infarto do miocárdio18.
Esse menor risco pode ser explicado por alterações nas subfrações do colesterol
LDL16, menor estado de inflamação, menor hipertensão e histórico
familiar14 e também por uma melhor condição cardiorrespiratória dos
MHO10. Porém quando o sedentarismo é avaliado através do tempo assistindo
televisão, a classificação de MHO não apresenta relação com níveis maiores de
atividade de lazer12.
Apesar dos resultados dos trabalhos citados anteriormente existem
outros trabalhos1-3-15-20-22-23 onde foi demonstrado que MHO
apresentam sim maiores riscos á saúde. Estes riscos envolvem aumento do risco
cardiovascular1—15, da mortalidade20-22 e até maiores
riscos de depressão23.
Parece prudente, considerando as informações disponíveis
sobre o risco envolvido com os MHO, considerarmos que pode não existir um
padrão saudável de aumento do peso22 e que os profissionais da saúde
deveriam hesitar em tranquilizar os pacientes caracterizados como MHO15
devido ao fato de que ambas as classificações de obesidade [MHO E MAO] possuem
elevado aumento dos riscos de mortalidade20.
Dessa forma acredito que seja importante para qualquer uma
das classificações de obesidade [MHO e MAO] uma intervenção que seja composta
de alterações na alimentação e a participação em um programa de exercícios. Um
trabalho9 publicado em 2014 mostrou que a prática de exercícios intervalados
de alta intensidade e uma dieta mediterrânea geram alterações positivas na
composição corporal, pressão arterial, glicemia em jejum, resistência à
insulina, aptidão cardiovascular e resistência muscular localizada de MHO e
MAO.
Para finalizar deixo duas afirmações:
Considerando
as informações já citadas é possível afirmar que uma alteração estética
associada à redução de peso irá acontecer de forma simultânea com a diminuição
dos riscos de mortalidade.
Independentemente
dos resultados dos seus exames é importante reduzir seu peso, caso sua
classificação seja de excesso de peso ou obesidade, pois não existe um padrão
saudável de aumento do peso quando gerado por gordura corporal.
Carlinhos
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