terça-feira, 8 de abril de 2014

Obesidade e Engordar - Um quebra cabeças


Quando falamos que para emagrecer é necessário que ocorra um balanço energético negativo, ingestão calórica menor que o gasto, e afirmamos que esse é o único ou o mais importante dos fatores responsáveis pelo emagrecimento estamos cometendo um grande erro e com talvez gerando frustrações naqueles que tem como objetivo reduzir seu peso!



Ao fazermos essa afirmação é como se estivéssemos tratando o emagrecimento como um fenômeno composto por somente uma parte! Mas na realidade o correto é tratarmos a questão como um quebra cabeças, composto por diferentes peças e onde talvez ainda não tenhamos todas as peças para completá-lo.


 

De quantas peças é composto esse quebra cabeças?

Não sei essa resposta, mas tenho certeza que é composto por mais de uma peça!

Peça 1 - Tipos de alimentos e mudanças hormonais

Sobre esse tema já escrevi diversas vezes [você podem ler aqui sobre isso], expliquei que quando comemos alimentos ricos em carboidratos irá ocorrer no nosso organismo um pico do hormônio insulina que poderá levar a formação e acumulo do gordura nas células adiposas. 

Esses alimentos ricos em carboidratos englobam principalmente os alimentos oriundos dos grãos [sejam eles integrais ou não], os alimentos industrializados com redução ou retirada total das gorduras e a adição de açúcar.


  

Essa afirmação não é somente minha, vocês podem ler sobre esse assunto em diferentes locais. Poderão ler informações de elevado nível científico em:

Peça 2 - Flora Intestinal

Muita vezes populações que ingerem grandes quantidades de carboidratos não possuem níveis representativos de obesidade ou até mesmo nenhum caso. Um exemplo disso são os moradores de uma ilha chamada Kitava, sobres os quais já escrevi em uma postagem anterior [veja aqui]. Eles tem uma dieta onde os carboidratos representam cerca de 70% das calorias, porém os alimentos que são fonte desses carboidratos são vegetais, frutas e algumas raízes.

Outra questão importante sobre esse tema são os asiáticos, eles ingerem uma quantidade representativa de carboidratos vindos do arroz e mesmo assim possuem níveis baixos de obesidade, isso é chamado de Paradoxo Asiático.

A possível explicação para isso esta no fato de que no nosso intestino existem um grande quantidade de bactérias que são importantes para digerir alguns alimentos e nos proteger de outras bactérias. Essas bactérias podem ser divididas em pró inflamatórias e anti inflamatórias, e as pessoas que possuem mais bactérias pró inflamatórias tendem a ter mais peso. E o aumento da quantidade de bactérias pro inflamatórias esta associado com a ingestão de alimentos ricos em carboidratos com origem nos grãos, como mostrou um trabalho realizado em 2012.

Além disso a ingestão de arroz [do tipo que os asiáticos comem ou o parboilizado] é um tipo de carboidrato que após ser preparado e resfriado forma um tipo de amido chamado Amido Resistente. Esse tipo de alimento é um alimento para a nossa flora intestinal anti inflamatória e dessa forma gera efeitos positivos sobre a saúde e a obesidade/emagrecimento. Você pode ler mais sobre esse tema aqui.




Peça 3 -  Genética

Sem dúvida nenhuma a questão genética é um dos fatores determinantes para quanto de gordura corporal um pessoa irá ter. E é possível que a questão genética determine como um indivíduo digere os carboidratos, foi isso que um estudo recente publicado na revista Nature Genetics. Este trabalho avaliou o efeito da quantidade de genes responsáveis por uma enzima chamada de amilase salivar, que é responsável pela digestão dos carboidratos quando eles entram em nossa boca. Esse gene é chamado de AMY 1 e os autores demonstraram que quanto maior é quantidade desse gene menor é o IMC.

Peça 4 - Gordura dos alimentos



Outra coisa importante! Se você quer emagrecer não tenha medo das gorduras naturais dos alimentos, coma carnes, ovos, abacate, banha, manteiga, queijo e nata. Esse alimentos não irão aumentar seu risco de morrer do coração [veja aqui e aqui] e irão fazer você emagrecer.

Uma série de estudos já provaram que dietas ricas em gorduras quando comparadas com dietas com baixa gordura fazem as pessoas emagrecer muito mais, ou seja, quer ficar mais magro coma mais gordura. Isso já foi demonstrado em diversos estudos e um dos mais importantes pode ser lido aqui.


Peça 5 - Antibióticos

Os antibióticos são utilizados desde a década de 50 como medição no combate de doenças em humanos e também para fazer com que aves, porcos e o gado ganhem peso, atualmente os cientistas acreditam que o uso dos antibióticos pode ser mais um fator relacionado com a epidemia de obesidade.


Martin J. Blaser, professor de medicina e microbiologia na Universidade de Nova York e seus colegas passaram anos estudando os efeitos dos antibióticos sobre o crescimento de ratos. Em um experimento, seu laboratório levantou dados sobre ratos alimentados com alimentos de alto teor calórico [lembrando que a origem das calorias é mais importante do que seu valor] e antibióticos. "Como todos sabemos, as dietas das nossas crianças ficaram muito mais ricas [principalmente em açúcar] nas últimas décadas", escreve ele em um livro,  "Micróbios Desaparecidos". Ao mesmo tempo, os antibióticos são frequentemente prescritos para as crianças americanas, o que acontece quando donuts de chocolate se mistura com penicilina?

Os resultados do estudo foram dramáticos, particularmente em ratos fêmeas: eles ganharam o dobro de gordura corporal em comparação com os ratos do grupo controle que comiam a mesma comida. "Para as fêmeas, a exposição aos antibióticos foi o interruptor que converteu mais dessas calorias extras da dieta em gordura, enquanto os machos cresceram mais em termos de músculo e gordura", o Dr. Blaser escreve. "As observações são consistentes com a ideia de que só a dieta moderna de alto teor calórico é insuficiente para explicar a epidemia de obesidade e que os antibióticos podem estar contribuindo." 

O texto sobre esse tema pode ser lido na integra no link.

Peça 6 - Perturbações e duração do sono

Um trabalho realizado da Escola Paulista de Medicina avaliou a influência de apneia do sono e insônia sobre o IMC de 34 mulheres pós menopausa entre 50 e 70 anos. A conclusão foi de uma elevada prevalência de distúrbios respiratórios do sono, sono fragmentado e insônia com IMC elevado [acima de 30 kg/m²].



Outra questão importante é  a influência da exposição a luz durante o período de sono, um trabalho publicado em 2013 mostrou que dormir com algum tipo de luz acessa gera perturbações no sono, afetando a profundidade e estabilidade do sono. Dessa forma poderia contribuir para o ganho de peso.

O cortisol é um hormônio secretado pela glândula supra-renal e é considerado o hormônio do estresse. Existe uma relação entre os níveis mais elevados desse hormônio e a maior incidência de obesidade [referência] e um trabalho feito com crianças mostrou maiores níveis de cortisol ao acorda quando a duração do sono é reduzida.

Parece então que o questão obesidade/emagrecimento é muito mais complexa do parece e tratamentos que considerem somente um ponto sem uma abordagem mais ampla, com certeza estão fadados ao fracasso.

Carlinhos
treinamentocarlinhos@gmail.com



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