Se perguntarmos para grande maioria das pessoas
qual a opinião delas sobre fazer um treino de corrida de 13 km em jejum (22
horas da última refeição) e sem tomar água iremos ouvir a seguinte resposta: tu
és louco! As justificativas para isso incluem que se exercitar em jejum pode
levar a hipoglicemia (link),
que o exercício em jejum não se aplica a todas as pessoas (link),
que ingestão de água e líquidos é fundamental para a corrida (link)
e que devemos ingerir cerca de 250 ml de água a cada 20 minutos de corrida (link).
Então por qual motivo resolvi fazer essa sessão
de treino em jejum e sem tomar água? Resolvi fazer esse treino como uma
experiência para provocar o debate sobre esses temas. E porque resolvi levantar
o debate sobre esses temas? A provocação do debate se deu, pois na área da
saúde muitas recomendações e intervenções não são baseadas em evidências e sim em
opiniões pessoais e na crença de que tal intervenção funciona. Um exemplo disso
é recomendação de que devemos comer de três em três horas, pois assim nosso
metabolismo seria acelerado e o emagrecimento potencializado (link).
Porém as evidências não justificam essa recomendação, você pode ler sobre isso aqui
e aqui.
A realização de exercício em jejum e a hidratação
durante a corrida podem ser enquadradas nessa situação também. Jejum regular pode ser relacionado com
alterações positivas para saúde (veja aqui)
e também é utilizado como meio de ganho da massa muscular (veja aqui). Trabalhos
científicos mostram que o jejum é capaz de aumentar o gasto de gordura em
repouso (veja aqui,
aqui e aqui)
e que também ele não esta associado com prejuízos durante a realização de
exercícios (veja aqui,
aqui
e aqui).
As “coisas” que são ditas sobre hidratação podem
não ser as “mais verdadeiras”. Sobre isso sugiro a leitura do livro Waterlogged
do Dr.Tim Noakes. Esse livro fala sobre o tema hidratação na corrida e
questiona as recomendações atuais tendo como tema central a
defesa da qualidade biológica fundamental da auto regulação. A auto regulação é um mecanismo que nos permite sobreviver a qualquer desafio físico, não
importa quão extremo ele seja.
Porém, por várias razões cientistas, médicos, atletas e as pessoas em geral acreditam no "modelo de catástrofe”. De acordo com este modelo, o corpo não pode acomodar até mesmo pequenos aumentos na temperatura corporal durante o exercício, nem pode ajustar-se aos défices de fluido e sódio que ocorrem durante o exercício. Em vez disso, quando expostos ao exercício em condições de grande exigência, o corpo vai simplesmente continuar sem controle até que uma falha fisiológica catastrófica inevitavelmente ocorra.
Porém, por várias razões cientistas, médicos, atletas e as pessoas em geral acreditam no "modelo de catástrofe”. De acordo com este modelo, o corpo não pode acomodar até mesmo pequenos aumentos na temperatura corporal durante o exercício, nem pode ajustar-se aos défices de fluido e sódio que ocorrem durante o exercício. Em vez disso, quando expostos ao exercício em condições de grande exigência, o corpo vai simplesmente continuar sem controle até que uma falha fisiológica catastrófica inevitavelmente ocorra.
Segundo Tim Noakes com base neste sistema de
crenças, a comunidade medico esportiva recomenda que o défice de fluído seja
evitado durante o exercício, assim como os défices de sal e glicose. Além
disso, este sistema de crenças insiste que nossos controles internos são
"irremediavelmente inadequados", e que somente intervindo sobre esses
controles podemos evitar falha catastrófica que pode levar a queda do
desempenho ou até mesmo à morte.
O autor escreve sobre como essa crença levou ao
surgimento de uma indústria das bebidas esportivas e como essa indústria gerou
uma mudança radical na interpretação de qual o melhor combustível para o
exercício de longa duração. Dr. Tim Noakes também descreve como a mudança do hábito
de “ingerir pouca água” existente durante os anos de 1970 para o hábito atual
de "beber quanta água você puder" não é uma mudança de paradigma sem
consequências.
Como o objetivo de fornecer dados para o debate que pretendo continuar em postagens futuras, gostaria de passar algumas informações. São elas:
- Glicemia em jejum antes do treino foi de 87 mg/dl.
- O ritmo do treino foi de 1 km em 5 minutos e 10 segundos.
- A intensidade estimada deste treino foi de 80% da minha capacidade aeróbica máxima.
- Glicemia imediatamente após o treino foi de 103 mg/dl e 30 minutos após o final do treino foi de 101 mg/dl.
- Não ingeri nenhum tipo de alimento durante o treino e até 30 minutos após seu término.
- Não foi a primeira vez que fiz uma sessão de treinamento em jejum, assim como já participei de provas de corrida nesta circunstância.
- Já fazem pelo menos 3 anos que uso estratégias alimentares que incluem uma dieta lowcarb, uso de jejum intermitente, evitar alimentos com açúcar e glúten, evitar alimentos ultraprocessados e priorizar a ingestão de alimentos in natura de origem animal.
- Meu programa de treinamento considera a utilização de exercícios intervalados de alta intensidade e um volume de treinamento menor do que a maioria dos programas de treinamento de corrida.
Gostaria de saber a sua opinião sobre esses temas e
em breve pretendo escrever novamente sobre os pontos aqui abordados.
Grande abraço...Carlinhos
treinamentocarlinhos@gmail.com
Muito bom.
ResponderExcluirMuito obrigado pelo elogio!
ExcluirMuito bom, Carlinhos!
ResponderExcluirEu acho que 13Km em jejum é normal, como treino, sem abusar da intensidade.
Adolfo! Para aqueles que usam a abordagem evolutiva fundamentada em ciência baseada em evidência o jejum é normal. Pelo que conheço de você (virtualmente) sei que concordamos nesse ponto. Minha intenção é abrir o debate, principalmente depois de um dia em que uma estudante de nutrição (aluna de um dos locais onde trabalho) me disse que ela não podia treinar sem café da manhã e suas justificativas foram aquelas que eu e você conhecemos. Espero que na continuação desse tema consigo receber outra a "Muito bom", obrigado.
ExcluirParabéns pela atitude Carlinhos, realmente os "acgismos" ainda superam a ciência. Faz três anos que faço natação em jejum de no mínimo 10h e pratico jejum intermitente e todos acham isso um absurdo.....Grande abraço
ResponderExcluirMarcos legal saber que você gostou do texto. Vou usar sua experiência para postagens futuras. Obrigado.
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