segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A Culpa é das Estrelas?!

No último final de semana assisti um filme chamado A CULPA É DAS ESTRELAS [você pode ver o trailer aqui], o filme conta a história de dois jovens que tem câncer, mostra o surgimento de uma relação de amor entre os dois e todas as questões que envolvem o relacionamento de duas pessoas que sabem que a morte certamente chegará mais cedo do que para a grande maioria das pessoas.

 

Eu admito que tenho dificuldades de lidar com a única coisa que temos certeza que vai acontecer em nossas vidas, morrer. E talvez o motivo pelo qual trabalho e estudo a saúde seja para tentar com que essa fato consumado ocorra o mais tarde possível e assim eu possa ver meus filhos se tornarem país e quem sabe até avós.

Ao terminar o filme fiquei pensando no que esse título significa, que ideia o roteirista e o diretor tinham intenção de expressar. Será que eles estavam pensando em algum tipo de influência das estrelas sobre o câncer, será que as estrelas emitem algum tipo de radiação que seria um arauto cósmico do câncer [lembrei até do Surfista Prateado], brincadeira!


Considerando que é possível um milhão de interpretações diferentes para essa frase, imagino que uma possível seja que muitas vezes coisas que acontecem com a gente são determinadas pelo destino e que não temos controle sobre elas. Ai surgiu outra questão, será que realmente algumas questões ligadas a nossa saúde são determinadas pelo destino, "pelo desejo de Deus" [nenhuma crítica a nenhum tipo de religião], simplesmente acontecem ou é mesmo culpa das estrelas?

O câncer será por culpa das estrelas?

Hoje conhecemos uma série de fatores de risco para o câncer [veja alguns aqui], quando se fala de alimentação saudável para prevenir câncer podemos encontrar alimentos que evitam o câncer e alimentos que potencializam a doença.

Após terminar o filme comentei com minha esposa sobre os benefícios da alimentação com base evolutiva [lowcarb/paleo] no tratamento do câncer. O Dr. Dominic d'Agostine que trabalha na Universidade do Sul da Flórida [veja aqui] tem um trabalho com animais onde ele demonstrou a capacidade da dieta cetogênica de "matar as células cancerígenas de fome", pois estas células apresentam um defeito genético que não as permite utilizar gordura como fonte de energia, elas somente conseguem usar glicose. Já nossas células saudáveis podem usar as duas substâncias como fonte de energia, dessa forma uma dieta evolutiva, onde os carboidratos são extremamente reduzidos poderia matar as células cancerígenas.

Encontrei um artigo muito bom sobre esse tema [original aqui], vejam algumas partes traduzidas a seguir.

Câncer: Um Problema Novo

O câncer é uma doença moderna, era quase desconhecido antes da revolução agrícola. Após passar de uma dieta rica em proteínas, com alto teor de gorduras, reduzida em carboidratos e baixa em toxinas para uma dieta com base em cereais, as pessoas começaram a ter câncer.

Os seres humanos não são feitos para terem uma dieta baseada em grãos e carboidratos, nossos genes são feitos para responder a certos alimentos, tanto positiva como negativamente. O câncer é uma resposta bastante negativa. 

Os pesquisadores mencionam que a dieta não é o único fator para o desenvolvimento de câncer. Existem outros componentes, como atividade física regular, exposição ao sol, sono suficiente, baixa nível de estresse crônico e a falta de alimentos que também não estariam disponíveis para os nossos antepassados ​​pré-neolítico. Ok, então a dieta ainda é a parte mais importante. 

Antes que alguém comece a discursar sobre como isto somente se aplica aos carboidratos de alto índice glicêmico e divulgando  que os carboidratos complexos e os saudáveis ​​grãos integrais são importantes para uma boa saúde, é importante dizer que os grãos integrais têm uma resposta igual ou maior aos grãos não integrais [farinha branca] quando se compara a elevação da glicose e da insulina. Independentemente do tipo de grãos que você está comendo, eles ainda vão produzir uma grande elevação da glicose e consequente liberação de insulina. 

Os pesquisadores também mencionam a importância da "vitamina D. Isto é particularmente interessante, pois os grãos costumam esgotar os estoques de vitamina D e também interferem com sua absorção. Existem casos de pessoas com uma dieta baseada em grãos que desenvolvem raquitismo, apesar da ingestão adequada de vitamina D. A deficiência de vitamina D é mais um caminho pelo qual os grãos podem causar câncer.

Um estudo recente mostrou qual o papel dos grãos no câncer. Veganos, vegetarianos e a maioria dos americanos [nota do tradutor: hoje os brasileiros também] obtém a maioria de seus carboidratos dos grãos. Como os pesquisadores apontaram, carboidratos com origem nos grãos podem ser o principal problema e não os carboidratos em geral. Uma dieta rica em carboidratos é ruim para pacientes com câncer, mas uma dieta rica em cereais é ainda pior.

Normalmente, a restrição de carboidratos não se limita apenas a evitar o açúcar e outros alimentos de alto índice glicêmico, mas também a uma redução da ingestão de grãos. Grãos podem induzir inflamação em indivíduos suscetíveis, devido ao seu conteúdo de ácidos graxos ômega-6, lectinas e glúten. Em particular, o glúten pode desempenhar um papel chave na origem de doenças auto-imunes e desordens inflamatórias e algumas doenças malignas.

Grãos causam inflamação por si só, independentemente de você estar ou não em uma dieta pobre em carboidratos. Isto ocorre através de várias vias. Grãos contêm gorduras omega-6, lectinas e glúten. Tudo aquilo aquilo contribui para a inflamação irá contribuir com o câncer, mas glúten tem várias características especiais que agravam o crescimento do câncer. No intestino delgado, glúten desencadeia a libertação de uma proteína que regula as junções entre as células epiteliais do intestino e, por conseguinte, sua função de barreira sangue-cérebro. Evidências recentes sugerem que a superestimulação dessa proteína em indivíduos suscetíveis pode desregular a comunicação intercelular promovendo tumorigênese em órgãos específicos [veja aqui].

A redução da carga total de carboidratos não é tão importante como a remoção de hidratos de carbono com base de grãos. É triste pensar que o Steve Jobs [que morreu de um câncer] foi orientado para comer não só pão, como também para ter uma dieta dieta rica em carboidratos com 8-11 porções dos "saudáveis" grãos integrais todos os dias.

Os autores do estudo foram rápidos em oferecer uma solução: uma dieta baseada na evolução. Tanto estudos em animais, como em humanos têm demonstrado que uma diate baseada nos alimentos que ingerimos na maior parte da nossa evolução é extremamente eficaz em melhorar a tolerância à glicose e diminuindo o risco de doenças muito mais do que a uma dieta mediterrânea baseada em grãos. Mudar para uma dieta evolutiva irá remover os grãos e reduzir o índice glicêmico total da dieta. Os vegetais têm um índice glicêmico muito mais baixo do que os grãos. Estudos têm demonstrado que isso resulta em um melhor controle da glicose e menos inflamação. 

Dietas baseadas na evolução que, por definição, exclui produtos com origem em grãos, tem apresentado melhor capacidade para aprimorar o controle glicêmico e diminuir os fatores de risco cardiovascular do que as dietas normalmente recomendados com baixo teor de gordura e ricas em grãos integrais. Essas dietas não são, necessariamente, dietas muito pobres em carboidratos, mas o foco sobre a substituição de alimentos modernos como grãos, frutas ricas em frutose e leguminosas, desta forma reduzindo o Índice glicêmico total da dieta.

No original do artigo, vocês poderão ler outras importantes informações.

Uma dieta rica em grãos integrais e reduzida em gordura é justamente o que nosso Ministério da Saúde recomenda, assim como a grande maioria dos profissionais da saúde. Então, será que ter câncer é culpa das estrelas?

Será que é culpa das estrelas termos problemas cardíacos e diabetes?

Era uma madruga fria do inverno de 2007, fui acordado pelo telefone, antes de atender disse para minha esposa: - o pai faleceu. Depois de quase dois meses de uma diabetes descontrolada ele faleceu no hospital de infarto agudo do miocárdio. Deve ter sido culpa das estrelas?

Meados da década de 1970 meu pai foi diagnosticado como cardiopata. Ele tinha um problema de condução elétrica no coração envolvendo as Fibras de Purkinje, o que pode gerar alterações na capacidade de contração do coração [veja aqui].

Como foi nessa época que começaram das recomendações de que o saudável é uma dieta com pouca gordura e rica em grãos integrais para uma boa saúde cardiovascular [veja aqui], meu pai foi orientado a comer dessa forma. Lembro que minha mãe fazia peito de frango sem pele e com pouca gordura na panela, que ele somente comia pão integral e que evitava comer muita carne vermelha por causa da gordura saturada.

Não lembro exatamente quando meu pai foi diagnostico com diabetes tipo 2, nem quando foi o primeiro infarto ou quando foi o primeiro AVC. É meu pai teve tudo isso, mesmo seguindo uma dieta "saudável". O que eu sei é que hoje a ciência tem mostrado que o melhor para diabetes é uma dieta completamente diferente daquela recomendada para o meu pai [veja aqui e aqui] e que a gordura saturada não é fator de risco para doenças cardiovasculares [veja aqui e aqui].

Deve ter sido por culpa das estrelas que naquela madrugada do inverno de 2007 eu recebi a ligação do hospital dizendo que meu pai havia falecido!

Deve ser também por culpa das estrelas que minha sogra, uma senhora com mais de 80 anos, que come pão integral todos os dias, ingere mais carboidratos vindos das frutas do que de outros vegetais, evita as gorduras e segue todas as recomendações médicas tem diabetes tipo 2, tem hipertensão arterial, teve infarto e fez cirurgia para ponte de safena?

O melhor mesmo para saúde mundial é terminarmos com as estrelas!

Carlinhos
treinamentocarlinhos@gmail.com

2 comentários:

  1. Carlinhos, tenho uma relação bem mais tranquila com o pensamento da morte do que a maioria das pessoas. Sou ateu. Então, encaro a morte sem me preocupar com vida eterna. Quando nascemos, já estamos morrendo também. A vida e morte caminham juntas no nosso corpo. Mas, o que fazemos com ele é que pode determinar a qualidade dessa vida e morte. Não pretendo viver muito para ver meus tataranetos, mas quero ter qualidade no pouco tempo que ainda me resta. Por isso, hoje, me preocupo mais com aquilo que como, pratico atividades físicas e administro meu stress diário. Por isso não culpo as estrelas por nada. Muito pelo contrário, sei que sou poeira delas.

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    1. Concordo que a qualidade no período que estamos aqui é vital e também sei que mesmo fazendo as coisas que faço, é impossível garantir um maior tempo de existência por aqui. Porém acredito que é essa tentativa que mais conseguir encarar o fato de que um dia isso tudo vai acabar. Abraço.

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