segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Alimentação e Exercício - Parte 1

Contexto das Recomendações Dominantes

Atualmente o paradigma dominante na área da saúde é composto por alguns pontos que cito a seguir:
  • A maior causa de morte no mundo é a doença cardíaca isquêmica [obstrução das artérias do coração] segundo a Organização Mundial da Saúde [1].
  • A maior causa de doença cardíaca isquêmica é a ingestão de gordura, principalmente a saturada. Por isso você deve ingerir menos de 30% das suas calorias diárias vindas das gorduras e no máximo 10% dessas gorduras podem ser de gorduras saturadas segundo o Ministério da Saúde [2].
  • O saudável é ingerir cerca de 55-75% das suas calorias diárias vindas dos carboidratos, principalmente pães e massas integrais e cereais [2].


Porém a ciência vem mostrando que esse paradigma dominante possui equívocos importantes que o transformam, talvez, na maior causa da degradação da saúde mundial. Os leitores deste blog já tiveram a oportunidade de ler sobre esse tema diferentes vezes e não sou somente eu que tenho essa linha de pensamento, abaixo coloco links de outros blogs e também de livros que possuem a mesma abordagem.

Considerando esse contexto dominante podemos iniciar a discussão sobre as recomendações alimentares para o exercício.

Em 1971 a Associação Americana para Saúde, Educação Física e Recreação [AAHPERD] publicou a primeira edição do Nutrition for the Athlete [Nutrição para o Atleta] onde é recomendada a ingestão de leite, carnes, vegetais, cereais, pão integral, batatas e gorduras saudáveis [3]. Essas recomendações acontecem alguns poucos anos depois de fatos históricos importantes que levaram ao paradigma dominante atual, entre eles temos:
  • 1951- Ancel Keys, professor da Universidade de Minnesota, assiste a uma conferência em Roma sobre nutrição e doenças, descobre que a doença cardíaca é rara em algumas populações do Mediterrâneo que consumiram uma dieta pobre em gordura. Ele observou , também, que os japoneses tinham dietas de baixa gordura e baixas taxas de doenças do coração. Ele levanta a hipótese de que a gordura era a causa de doença cardíaca.
  • 1953 - Ancel Keys, convencido de que a gordura na dieta é a causa de doença cardíaca, publicou seu trabalho que analisa seis países. Os resultados sugerem uma associação entre a gordura e mortalidade por doença cardíaca dietética. Os críticos apontaram que Keys tinha dados de 22 países, mas os dados selecionados foram somente de apenas 6. Keys excluiu  a França, um país com uma dieta rica em gordura e baixas taxas de doenças do coração.
  • 1955 - O presidente americano, Eisenhower, sofre seu primeiro ataque cardíaco aos 64 anos. Lhe foi prescrita uma dieta de baixo teor de gordura e colesterol. Durante as seis semanas seguintes notícias sobre o estado de presidente eram vinculadas duas ou mais vezes por dia. Seu colesterol total no momento do ataque era de 165 ml/dl. Eisenhower foi condenado a comer torradas e pão no café da manhã e comer apenas um ovo por semana. Seu colesterol continuou a subir, mesmo com a dieta de baixo teor de gordura e colesterol até atingir 259 ml/dl no dia em que deixou o cargo. Eisenhower teve vários ataques cardíacos e acabou por morrer de doença cardíaca.
  • 1956 - American Heart Association [AHA ]realiza uma festa beneficente TV em todas as três redes recomendando  aos americanos que reduzam o consumo de gordura total , gordura saturada e colesterol. AHA recomendava margarina " coração saudável " , óleo de milho , cereais matinais, e leite desnatado - a mesma dieta prescrita para Eisenhower.      
  •  1961- Ancel Keys se torna membro  do conselho do AHA e aparece na capa da Time Magazine.  A mídia passa a repercutir o mantra da dieta de baixo teor de gordura. O Estudo de Framingham Heart Study, usando dados de 5 anos divulga que Homens com menos de 50 com colesterol elevado têm maior risco de doença cardíaca. No entanto, este grupo de homens vulneráveis ​​meia-idade também foram mais propensos a fumar, estar acima do peso , e não se exercitar. Estes se tornaram os  famosos fatores de risco de Framingham e colesterol elevado estava no topo da lista.
  • 1966 - Jeremias Stamler , professor da Universidade de Northwestern, AHA membro do conselho e um defensor da teoria de Ancel Keys , promove a mudança para gorduras vegetais em seu livro de auto-ajuda, "Seu Coração Tem Nove Vidas', que curiosamente foi  financiado pelos fabricantes do óleo de milho Mazola  e da margarina Fleissmann.
  • 1970 -  As diretrizes anti-gordura do American Heart Association agora englobam crianças e mulheres grávidas. Como conseqüência direta, o programa WIC do governo federal [assistência alimentar a mulheres com filhos pequenos] somente permite leite desnatado ou leite de baixo teor de gordura para crianças acima de 2 anos de idade 
  • 1971-  Best-seller  anti-carne "Dieta para um pequeno planeta" é publicado. O argumento de Francis Moore Lappe para o vegetarianismo é que essa é a maneira de alimentar o mundo dos pobres.


É nesse contexto que todas as recomendações relacionadas com alimentação e exercícios são realizadas. Parece bastante óbvio que essas recomendações, que são feitas para uma alimentação saudável, também sejam extrapoladas para a educação física e desportos.

Esse paradigma nos leva a acreditar que o principal alimento para a prática de exercícios físicos sejam os carboidratos, pois as gorduras aumentam o risco de doenças cardiovasculares. Dentre os carboidratos devem ser ingeridos os pães, massas e cereais e preferencialmente os integrais. Carnes somente as magras, com reduzido teor de gordura saturada.

Atualmente essas recomendações continuam sendo a "verdade" dominante, no último final de semana em um programa chamado SporTV Repórter está foi a mensagem final [veja a matéria aqui].

Porém considerando uma abordagem evolutiva e as informações da ciência baseada em evidências todas essas recomendações podem ser debatidas e quem sabe derrubadas.

Nas próximas postagens sobre esse tema pretendo abordar:
Número de refeições
  • Dieta antes da atividade
  • Dieta durante a atividade
  • Dieta após a atividades

Referências
  1. http://www.news.med.br/p/saude/367834/oms+divulga+as+dez+principais+causas+de+morte+no+mundo+de+2000+a+2011.htm
  2. http://dtr2001.saude.gov.br/editora/produtos/livros/pdf/05_1109_M.pdf
  3. Fox El; Matheus DK. Bases Fisiológicas da Educação Física e dos Desportos. 3°ed. Editora Guanabarra, 1986, pág. 360


Carlinhos
treinamentocarlinhos@gmail.com

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