quarta-feira, 26 de março de 2014

Gorduras na Dieta!

Bem pessoal já faz algum tempo que venho escrevendo sobre nutrição e os equívocos que são cometidos desde os anos de 1950.

Nos últimos anos as comprovações científicas sobre uma informação que normalmente gera expressões de espanto quando digo para as pessoas estão se acumulando. Essa informação é:

Uma dieta saudável deve ser composta de comida de verdade e devemos ingerir gordura natural dos alimentos em uma quantidade muito maior do que a recomendada.

Eu poderia escrever uma postagem bastante grande sobre essas evidências, porém prefiro dar o crédito merecido para pessoa que iniciou essa luta antes. Falo de Dr. J C Souto, médico urologista de POA-RS.

No seu blog, www.lowcarb-paleo.blogspot.com.br, ele colocou pelo menos 3 postagens sobre esse tema no último mês.

Decidi que a partir de hoje que não necessito mais escrever sobre gordura na dieta.

 As pessoas que fundamentam suas opiniões na área da saúde em ciência baseada em evidência não podem mais fechar os olhos para a evidente derrocada do maior dogma da "ciência da nutrição" tradicional.

Até...
Carlinhos.

terça-feira, 18 de março de 2014

Alimentação com Redução de Carboidratos e Diabetes Tipo 2



Conheço algumas pessoas com Diabetes do Tipo 2 [DM2] inclusive na minha família, essa patologia é responsável por 90% dos casos de diabetes [1] e se caracteriza por um distúrbio metabólico que gera uma elevação da glicose sanguínea devido a um aumento da resistência a insulina [2]. Resistência a insulina é uma condição em que os níveis normais de insulina corporal não são suficientes para respostas adequadas e necessárias para o controle da glicemia sanguínea [3]. Você pode ler sobre esse tema aqui.

No Guia Alimentar para Pessoas com Diabetes recomendado pelo Ministério da Saúde vocês encontrará as diretrizes sobre como um diabético deve se alimentar. Nele consta a informação de que as gorduras devem ser evitadas através de um consumo de carnes magras e leite desnatado por exemplo. Você também encontrará a sugestão de ingestão de pão integral e outros grãos e poderá ver que a base da pirâmide alimentar recomendada são os carboidratos  e que eles devem ser consumidos em várias porções diárias.

Sabemos que os carboidratos são os alimentos que mais elevam as glicose sanguínea, as gorduras não causam essa elevação e as proteínas somente podem fazê-lo com ingestões extremas. As pessoas portadoras de DM2 possuem uma "alergia" ao açúcar e aos carboidratos, se você procurar a recomendação médica para tratar qualquer tipo de alergia alimentar encontrará a informação para evitar o alimento causador da alergia [leia mais aqui]. Sendo assim por que a recomendação para diabéticos é reduzir gordura e comer carboidratos?

Neste ano um estudo do tipo experimental que fornece informações científicas de elevada confiabilidade mostrou que somente dietas com redução de carboidratos e não dietas com redução de gordura são efetivas para que alterações positivas relacionadas com DM2 sejam alcançadas.

Low-carbohydrate/high-protein diet improves diastolic cardiac function and the metabolic syndrome in overweight-obese patients with type 2 diabetes

Nesse trabalho os pacientes com DM2 com média de 50 anos foram divididos em dois grupos. Um deles fez uma dieta com redução de carboidratos e aumento das proteínas [DRC] e outro grupo fez uma dieta com redução de gordura e aumento dos carboidratos [DRG] por 3 semanas. O grupo DRG após 3 semanas fez 2 semanas de DRC.

Os resultados demonstraram que os dois grupos tiveram redução de peso, porém somente o  grupo DRC teve alterações significativas na resistência a insulina, triglicerídeos e função cardíaca diastólica [função de ejeção de sangue do coração]. Esses mesmos resultados positivos também foram alcançados pelo grupo DRG quando após as 2 semanas de DRC.

A conclusão dos autores foi:

These data indicate, that a low-glycaemic/high-protein but not a low-fat/high-carbohydrate nutrition modulates diastolic dysfunction in overweight T2D patients, improves insulin resistance and may prevent or delay the onset of diabetic cardiomyopathy and the metabolic syndrome.
  
Estres resultados indicam que uma dieta rica em proteínas e não uma dieta pobre em gorduras e rica em carboidratos pode gerar alteração na função diastólica em pacientes diabéticos com obesidade, melhorando a resistência a insulina e também pode prevenir ou retardar um quadro de cardiopatia e síndrome metabólica.

Assim! Realmente não consigo entender porquê as recomendações para diabéticos ainda continuam sendo de redução de gordura e manutenção dos carboidratos na dieta!

Abraço.
Carlinhos

Referências

  1. http://www.diabetes.org.br/diabetes-tipo-2
  2. http://pt.wikipedia.org/wiki/Diabetes_mellitus_tipo_2
  3. http://pt.wikipedia.org/wiki/Resist%C3%AAncia_%C3%A0_insulina

segunda-feira, 10 de março de 2014

Jin Ji Du Li - O Exercício Chinês de Equilíbrio

O conhecimento Oriental é sem dúvida nenhuma muito interessante, independente da área que estejamos falando. Há alguns anos atrás eu li um livro chamado o Tao da Física escrito por Fritjof Capra, um físico americano que nesta obra descreve os aspectos semelhantes entra a física de partículas e misticismo oriental. Na área da saúde também é possível traçarmos alguns paralelos entre os dois tipos de conhecimento.

Existe um exercício chamado de Jin Ju Du Li que é descrito como uma efetiva ferramenta de avaliação [veja aqui] e aprimoramento da saúde em diferentes aspectos [veja aqui], como auxiliar no tratamento e prevenção de:
  • Hipertensão
  • Diabetes
  • Problemas de coluna
  • Demência
Os benefícios que poderiam ser conseguidos com alguns minutos por dia!

Esse exercício consiste em ficar em uma perna só, preferencialmente de pés descalços, e com os olhos fechados. Dependendo do tempo que você fica poderíamos avaliar o declínio da saúde para uma idade correspondente. Por exemplo se você não consegue ficar mais do que 5 segundos sem se desequilibrar sua saúde seria equivalente a de uma pessoa de 65 anos [claro que uma pessoa de 65 pode ser extremamente saudável, mas nesse caso refere-se a um declínio das funções corporais].



Será que um exercício relativamente tão simples pode ser tão benéfico?

Vamos ver alguns trabalhos sobre o tema!

Why not use your own body weight to prevent falls? A randomized, controlled trial of balance therapy to prevent falls and fractures for elderly people who can stand on one leg for ≤15 s.

Este trabalho foi publicado em 2013 na revista da Associação Japonesa de Ortopedia, ele envolveu dois grupos de total de 164 homens e 701 mulheres com média de 75 anos. Um grupo realizou por 6 meses um exercício chamada de "flamingo" [permanecer em uma só perna com os olhos abertos] por 1 minuto por dia e um grupo controle não fazia o exercício. Após 6 meses de treinamento os autores verificaram que houve um aumento significativo na independência em relação as atividades diárias e uma redução no número de quedas.


Essa informação pode servir para sustentar um benefício bastante positivo desse tipo de exercício [Jin Ji du Li] que é um aumento da independência de idosos e um aumento da sua segurança durante a execução das suas atividades diárias, já que pode ocorrer uma redução do risco de quedas.

Uma coisa interessante de comentar é o fato de que no trabalho citado acima o exercício era executado com os olhos abertos. O fato de no Jin Ji Du Li a execução ser feita com os olhos fachados pode trazer ainda mais benefícios. Vejamos o trabalho seguinte.

Aging and balance control in response to external perturbations: role of anticipatory and compensatory postural mechanisms.

Neste trabalho os autores avaliaram a capacidade de idosos de fazer ajustes compensatórios e antecipatórios na sua postura  frente há algum tipo de perturbação. Os idosos permaneciam em pé e sofriam perturbações [pequenos empurrões] na parte superior do corpo, esses empurrões eram avisados ou não. No final do estudo os autores concluíram que com o tempo os idosos passam a usar mais os ajustamentos antecipatórios e diminuem os ajustamento compensatórios, o que aumentaria a estabilidade na postura em pé.

Talvez possamos considerar que manter os olhos fechados como um tipo de perturbação que faz necessário que o ajustamento da postura e consequentemente a manutenção do equilíbrio seja aprimorado de forma mais efetiva. 

O Tai Chi é uma atividade oriental que envolve uma série se movimentos realizados com controle e equilíbrio. Muitas vezes são realizados exercícios com a utilização do apoio em uma só perna.



Essa atividade foi estuda em relação a diversos pontos da saúde vamos ver alguns deles e avaliar se é possível fazer uma associação com o Jin Ji Du Li.


Effects of Tai Chi on balance and fall prevention in Parkinson's disease: a randomized controlled trial.


O Objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos do Tai Chi sobre o equilíbrio e a mobilidade de pacientes acometidos com o Mal de Parkison e também determinar se poderia ocorrer uma diminuição do número de quedas. Portadores da doença com mais de 40 anos foram divididos de forma aleatória em dois grupos, um grupo controle [que não praticou Tai Chi] e outro grupo que praticou Tai Chi por 12 semanas. Ao final do período de treinamento o grupo que praticou Tai Chi melhorou seu equilíbrio e apenas 8 pessoas do grupo do Tai Chi [eram 37 pessoas nesse grupo] tiveram eventos de queda, enquanto no grupo controle [composto por 39 pessoas] 19 pessoas tiveram eventos de queda. 


Esse estudo reforça o conceito de que exercícios como o Jin Ji Du Li possam ser importantes para um aprimoramento do equilíbrio e redução de quedas não somente para pessoas saudáveis como também pessoas com patologias. 


Effects of Tai Chi exercise on blood pressure and plasma levels of nitric oxide, carbon monoxide and hydrogen sulfide in real-world patients with essential hypertension.


Neste trabalhos pessoas hipertensas foram colocados em dois diferentes grupos: praticantes de Tai Chi [24 pessoas] e não praticantes [16 pessoas]. O grupo praticante fazia exercícios 6x/sem durante 60 minutos por 12 semanas. Ao final do período de treinamento o grupo que praticou Tai Chi teve sua pressão arterial média, diastólica e sistólica reduzida em relação ao grupo sedentário.

Isso mostra que a afirmação de que o Jin Ji Du Li pode combater a hipertensão pode ser verdadeira. Porém é importante frisar que o volume de exercício realizado neste trabalho, seja por dia ou por semana, é bastante superior ao volume que foi realizado pelos exercícios de equilíbrio nos trabalhos mostrados anteriormente. Isso significa para alterações que envolvem a hipertensão talvez seja necessário um volume de exercício maior do que realizar Jin Ji Du LI um , dois ou três minutos por dia.

Nos trabalhos citados anteriormente a população envolvida era de idosos ou pessoas com mais de 40 anos. Será que esse tipo de exercícios pode ser benéfico para pessoas mais jovens?


Tai chi training reduces self-report of inattention in healthy young adults.


Este trabalho a avaliou a influência do Tai Chi sobre os sintomas de déficit de atenção de mulheres entre 19 e 24 anos.  44 fizeram parte do grupo controle [sem Tai Chi
] e 28 fizeram parte do grupo que praticou Tai Chi. Os resultados mostraram que o Tai Chi pode diminuir os sintomas de déficit de atenção.

Vemos então uma possibilidade que exercícios de equilíbrio possam também ser positivos para pessoas mais jovens.

Trabalhos científicos conhecidos como meta análises geram informações de grande significado na área da saúde [leia mais aqui]. Vamos ver a influência dos exercícios de Tai Chi sobre o câncer.

Health benefits of qigong or tai chi for cancer patients: a systematic review and meta-analyses.


Este trabalho encontrou efeitos positivos do Tai Chi sobre a qualidade de vida, níveis de fadiga, sistema imunológico e níveis de cortisol [hormônio do estresse] de pacientes com câncer. Porém é necessário cautela para a extrapolação desses resultados pois os estudos experimentais [que fornecem informações científicas de maior confiabilidade leia mais aqui] incluídos nessa avaliação foi reduzido.

Bem! Considerando todas as informações científicas levantadas que pudessem nos fornecer uma ideia do real potencial de benefício do exercício chinês Jin Ji Du Li podemos concluir que esse tipo de exercício pode trazer resultados positivos para fatores como equilíbrio e diminuição do risco de queda. Porém para alterações positivas relacionadas a hipertensão arterial, deficit de atenção e câncer talvez seja necessário um volume maior de exercícios do que somente alguns minutos por dia.

Grande abraço!
Carlinhos



domingo, 2 de março de 2014

Qual o melhor tipo de exercício?

Inúmeras vezes as pessoas escutam na mídia que o melhor tipo de exercício é natação, em outra reportagem escutam que é a musculação, alguns meses depois outra reportagem fala que o melhor exercício é o pilates. E pode ter certeza que daqui algum tempo vai surgir outro tipo de exercício que será considerado o melhor.

Qualquer um desses exercícios apresenta características extremamente positivas e sem dúvida nenhuma eles são capazes de fazer com que as pessoas atinjam seus objetivos, sejam eles quais forem.

Mas, existe o melhor exercício? Minha resposta é para essa pergunta é sempre a mesma: o melhor exercício é aquele que você gosta e aquele que você vai fazer. Pois de nada adianta eu descrever os inúmeros benefícios de uma modalidade de exercício se meu aluno não gosta dessa modalidade e vai acabar não fazendo os exercícios regularmente.

Uma ou duas ou três sessões de treinamento [de qualquer modalidade] não serão suficientes para que as respostas positivas ao exercício sejam alcançadas, é necessário que a pessoa pratique a modalidade escolhida de forma regular. Se a pessoa não gosta de uma atividade com certeza sua adesão ao programa de exercícios será pequena e se a adesão é pequena os benefícios não serão atingidos.

Um trabalho [1] publicado neste ano mostrou que as alterações positivas decorrentes de um programa de reabilitação cardíaca envolvendo alterações alimentares e as práticas de exercícios estão diretamente relacionadas com o grau de adesão as modificações no estilo de vida envolvendo exercício e alimentação.

Outra questão fundamental em relação ao tipo de exercício é o fato de que as pessoas devem praticá-los por vontade própria, pois não exista nada pior do que fazermos algo que não temos vontade. Ser obrigado a fazer algo contra nossa vontade sem dúvida nenhuma não é algo benéfico. Vou descrever um estudo feito com ratos [2] que pode nos trazer informações importantes [porém é importante considerar as limitações dos estudos com modelos animais].


O título do estudo é:

Forced treadmill exercise training exacerbates inflammation and causes mortality while voluntary wheel training is protective in a mouse model of colitis [Exercício forçado em esteira aumenta a inflamação e a mortalidade enquanto exercício voluntário gera proteção para colite em uma modelo animal].

 

O objetivo do trabalho foi analisar se o treinamento físico reduz a inflamação e sintomatologia em um modelo animal para colite [uma doença inflamatória do intestino]. A hipótese dos autores era que a corrida forçada [CF] ou voluntária [CV] reduziriam os sintomas de colite e inflamação do cólon em resposta a uma estimulação medicamentosa da doença. Camundongos foram divididos aleatoriamente em grupo sedentário, um grupo de CF e outro de CV. Contrariamente à hipótese dos autores, o grupo de CF teve exacerbada a sintomatologia da colite e inflamação do cólon. Eles também observaram uma maior mortalidade no grupo de CF. Ao contrário o grupo de CV teve os sintomas e a inflamação do cólon diminuídos. Os autores concluíram que a CF exacerba os sintomas de colite, enquanto a CV diminuí sintomas e a mortalidade.

 

Outro estudo [3] com animais demonstrou que o exercício voluntario é mais benéfico do que o exercício forçado para redução dos aspectos ligados ao Mal de Alzheimer. Mesmo que o exercício forçado possa ser benéfico em alguma situação, como é o caso no Mal de Parkinson, onde quando os animais fazem exercícios forçados os aspectos relacionados à função motora são aprimorados [4], parece importante considerar que de forma geral os benefícios do exercício voluntário parecem serem superiores aos do exercício forçado.

 

Assim quero deixar com mensagem final de que vocês devem sim fazer exercícios, mas vocês devem escolher uma modalidade de exercícios que lhes agradem, pois somente dessa forma a adesão será alta e os benefícios poderão ser alcançados.

 

Grande abraço!

Carlinhos

 

Referências:
  1. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24573342
  2. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23707215
  3. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19524672
  4. http://nnr.sagepub.com/content/23/6/600.abstract