quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Exercício, Estilo de Vida, Família e Trabalho.

Exercício, Estilo de Vida, Família e Trabalho.

Posso dizer que nos últimos anos, principalmente depois do nascimento do meu primeiro filho, além de ser Professor de Educação Física sou também um fervoroso adepto de um estilo de vida “saudável”, onde pratico exercícios, procuro me alimentar bem e dou a atenção devida ao sono e ao controle de estresse. Devido a isso algumas vezes sou chamado de egoísta, pois em certas situações coloco isso como prioridade.


Para muitas pessoas colocar o exercício ou outro hábito de um determinado estilo de vida em primeiro lugar é uma ação egoísta. Mas talvez pudéssemos dizer a mesma coisa daqueles que colocam o trabalho ou outra atividade como prioridade. Porém acredito que possamos achar um ponto de equilíbrio.

Sem dúvida alguma o exercício e outros hábitos de vida são benéficos para nós no trabalho. O trabalho é uma forma de melhorar a si mesmo assim como um programa de exercícios pode aprimorar a nossa carreira profissional. Manter nosso organismo saudável através da prática de exercícios pode nos ajudar a aumentar a produtividade no trabalho, melhorar nossos relacionamentos e de forma geral melhorar nossa vida.

A prática de exercícios com objetivos estéticos pode ser gratificante no curto prazo, porém isso não irá nos transformar em melhores trabalhadores, pais ou companheiros. Dessa forma para determinar se colocar o exercício, a alimentação ou o descanso em primeiro lugar é uma ação egoísta se torna uma tarefa complexa.

Considerando os padrões culturais atuais, se alguém trabalha mais horas será aplaudido, mesmo que esteja ficando menos tempo com a família. Mas se alguém passar alguns minutos a mais por semana praticando exercícios isso não será visto com os mesmos olhos.

Como o nosso tempo em um dia ou semana é finito, alcançar o equilíbrio é difícil. Mesmo com os avanços tecnológicos, um dia continua tendo 24 horas e uma semana 7 dias. Por isso para muitas pessoas encontrar tempo para o trabalho, para a família e para o exercício ou outros hábitos saudáveis é uma tarefa árdua.

Talvez uma das soluções para isso esteja na análise da qualidade do tempo gasto com nossas atividades diárias. O simples fato de estar com nossos filhos não nos torna melhores pais, o simples fato de estarmos com nossos(as) companheiros(as) não nos torna melhores maridos ou esposas. Se vamos ser bons pais ou companheiros irá depender muito do que fazemos quando estamos com nossos familiares, ou seja, da qualidade do que fazemos nesse período.

Assim, a quantidade de tempo gasta com o exercício ou atividade física não é o ponto mais importante, a qualidade do treinamento que fazemos é o que irá determinar se alcançaremos um bom nível de aptidão física, saúde ou bem-estar. Se fizermos exercício em demasia lesões podem ocorrer, se fizermos de menos os resultados não serão alcançados. 

Mesmo que não possamos concluir se colocar o exercício em primeiro lugar é uma ação egoísta ou não o fato é que o exercício pode melhorar tanto sua vida profissional e quanto a familiar. Em 2008 pesquisadores do Reino Unido fizeram um trabalho [1] com proposta de avaliar a influência do exercício sobre o estado de humor no trabalho através de questionários. Foram escolhidas duas empresas privadas e uma pública com atividades predominantemente sedentárias, dois questionários foram fornecidos. Ao final do trabalho foram entrevistados 201 empregados (67% mulheres e idade média de 38 anos) o humor e a produtividade foram melhores nos dias em que os empregados praticavam exercícios.  Os autores concluíram que o exercício pode melhorar o humor dos trabalhadores e o desempenho nos dias em que eles se exercitam em comparação aos dias que não o fazem. Eles também mostraram que existem claras implicações não só para o bem-estar dos funcionários, mas também uma vantagem competitiva e motivacional quando o exercício faz parte da rotina.

Efeitos positivos do exercício sobre trabalhadores também estão relacionados com fatores de estresse e depressão, em 2012 as pesquisadoras Sharon Toker e Michal Biron publicaram os resultados de um estudo [2] onde mostraram que atividade física atenuada estes efeitos negativos do estresse no trabalho e também os sinais de depressão.


Muitas vezes quando conseguimos organizar nosso tempo para fazer exercício e não ser demitido do trabalho acabamos nos sentindo culpados, pois poderíamos usar esse tempo para estar com a família e os amigos. Em relação à família podemos considerar nossa saúde como um dos bens mais preciosos, dessa forma melhorar nosso condicionamento físico é sim um objetivo “nobre” e pode gerar uma influência positiva sobre a saúde de nossos familiares. Em 2014 a revista Pediatrics publicou um trabalho [3] que após avaliar o nível de atividade física de 554 crianças com 4 anos de idade concluiu existir uma correlação direta entre o nível de atividade física das mães e seus filhos. Ou seja, quanto menos ativas fisicamente eram as mães, mais provavelmente os filhos iriam ser tornar sedentários no início da vida.

A participação em programas de exercício não precisa necessariamente algo que nos exclui da convivência com nossos familiares. As famílias podem se exercitar em grupo e encontrar atividades coletivas que melhoram os relacionamentos. Mesmo que não seja possível fazer exercícios em família é importante que organizemos nossa rotina para propiciar que os outros membros da família possam ter seu tempo para o exercício. Nessa situação o marido ou a esposa podem ter períodos em que um deles fica com os filhos propiciando ao outro o tempo necessário para o exercício. É importante que tenhamos na nossa rotina o tempo para que as crianças se exercitem, onde ocorra nossa participação. Como quando os pais se organizam para levar as crianças para a natação, judô ou dança.

A alimentação e os períodos de sono também devem ser organizados de forma coletiva na família. Refeições em família tornam muito mais fácil criar nas crianças hábitos saudáveis de alimentação. De forma regular os pais devem servir de exemplo quanto ao período e horário do sono.

Enfim, atualmente é difícil manter um estilo de vida que esteja de acordo com as “expectativas” do nosso organismo e dessa forma alcançar  saúde e condicionamento físico. E sem dúvida fazer isso de forma integrada com a família é ainda mais difícil, mas devido a importância do exercício, alimentação e repouso devemos dedicar esforços nesse sentido.

Carlinhos
treinamentocarlinhos@gmail.com
contatometodoevolutivo@gmail.com

Referências
  1. Coulson JC, et al. 2008. Exercising at work and self‐reported work performance.
  2. Toker S, Biron M. 20120. Job Burnout and Depression: Unraveling Their Temporal Relationship and Considering the Role of Physical Activity.
  3. Kathryn R, et al. 2014. Activity Levels in Mothers and Their Preschool Children.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Caso você tenha tempo!!

Hoje eu gostaria de saber sua opinião! Se você tiver 15 minutos, assista o vídeo que segue e depois deixe sua opinião no espaço para comentários.




Obrigado, Carlinhos
treinamentocarlinhos@gmail.com

terça-feira, 10 de novembro de 2015

O que dieta lowcarb tem a ver com mergulho!?

Observação: Esta postagem foi escrita para ser publicada em dois blogs (Carlinhos Treinamento e ARTEC SCUBA), por isso para aqueles que costumam acompanhar somente um dos blogs alguns termos podem não ser familiares. Tentarei remediar essa questão ao máximo.

Introdução

Tenho duas profissões, professor de educação física e instrutor de mergulho, gosto e me dedico muito às duas. E recentemente fiquei muito contente ao ver mais uma ligação entre as elas. Recebi meu exemplar do segundo livro escrito por Lászlo Mocsári sobre mergulho com Rebreathers. É um excelente livro, principalmente para aqueles que gostam da parte técnica e fisiológica do mergulho.

Todos que já leram meu blog sobre treinamento sabem que uso da abordagem evolutiva para diversas questões do treinamento e condicionamento físico. Entre elas está a recomendação de uma dieta com uma ingestão reduzida em carboidratos em comparação às dietas tradicionalmente ditas como saudáveis.

No último capítulo deste livro, chamado Dietas com Restrição no Consumo de Carboidratos e Mergulho com Rebreathers, encontrei pela primeira vez uma relação entre o menor consumo de carboidratos e alterações fisiológicas no mergulho.

Antes de falar especificamente sobre esse tema será necessário fazer algumas considerações para que aqueles que não estão familiarizados com mergulho autônomo possam compreender melhor as ideias do autor.




Como são os equipamentos de respiração utilizados no mergulho?

SCUBA significa Self Container Breathing Aparratus, que é um equipamento de respiração autônomo (independente de qualquer suprimento de ar da superfície) utilizado por aquelas pessoas que desejam explorar o mundo subaquático.

Podemos dizer que existem dois tipos de equipamentos de mergulho. O equipamento de circuito aberto e o equipamento de circuito fechado. Nos dois tipos de equipamento o suprimento de ar é carregado em cilindros que normalmente são de alumínio. A diferença entre os dois é que no de circuito aberto o ar é inalado do cilindro e expirado para a água e no circuito fechado o ar é inalado do cilindro, mas não é expirado para a água. Nessa situação o ar exalado é novamente introduzido no sistema e pode ser respirado outra vez. Os equipamentos de circuito fechado são também chamados de Rebreathers.


SCUBA - Circuito aberto


SCUBA - Circuito fechado

Oxigênio e Dióxido de Carbono no Mergulho

Quando nós inspiramos temos o objetivo de fornecer ao nosso organismo oxigênio (O2) e ao expirarmos nosso objetivo é eliminar o dióxido de carbono (CO2) produzido nas nossas células. Durante o mergulho temos que fazer a mesma coisa, porém teremos algumas alterações fisiológicas geradas pela respiração dos gases sobre pressão.

Alguns mergulhadores podem ter uma maior retenção de CO2 mesmo que a quantidade inspirada seja normal. Essa retenção pode aumentar o risco dois problemas relacionados com a respiração de gases sob pressão no mergulho. A narcose e a intoxicação por oxigênio.

O que é Narcose?

De forma simples podemos dizer narcose é uma alteração do sistema nervoso central, gerada pelos gases respirados durante o mergulho e que levam a uma diminuição das funções motoras e cognitivas. Essas alterações em algumas situações podem colocar o mergulhador em risco.

O que é intoxicação por Oxigênio?

Durante o mergulho respiramos o oxigênio em pressões que superam aquela em que o oxigênio é respirado na superfície. Dependendo dos valores da pressão respirada durante o mergulho podem ocorrer alterações visuais, auditivas e até mesmo convulsões. As convulsões são muito perigosas em mergulhos, pois aumentam significativamente o risco de afogamento.

Ideias lowcarb do Lázslo

Durante determinado período o Lázslo estava utilizando uma dieta lowcarb para redução de peso e emagrecimento (estudos tem demonstrado a efetividade desta abordagem para o emagrecimento e saúde, veja aquiaquiaquiaquiaquiaquiaqui e aqui) e claro continuou mergulhando.

Durante a prática de mergulhos com rebreathers os riscos envolvidos com o CO2 podem ser considerados maiores do que nos mergulhos com equipamentos SCUBA de circuito aberto. No seu livro Lászlo lescreve sobre as alterações relacionadas à produção de CO2 e a predominância de alimentos da dieta. Quando nossa ingestão de carboidratos é alta (50-60% das calorias diárias) teremos uma maior produção de CO2  do que se a dieta tivesse uma quantidade menor deste macro nutriente. Dessa forma o autor sugere que em mergulhos com uma maior demanda física (maior distância de natação ou a presença de correntes) a possibilidade de uma produção menor de CO2 seria um benefício em potencial.

Com essa teórica redução da produção de CO2 durante o mergulho é possível inferir que exista a chance de uma diminuição dos riscos de narcose e intoxicação por oxigênio caso a dieta do mergulhador apresente uma menor ingestão carboidratos. E dessa forma ocorra um aumento geral da segurança no mergulho.

Claro que esse possíveis benefícios são no momento somente conjecturas, necessitamos que estudos sejam realizados nesse sentido para podermos chegar a informações mais precisas.

Mas a informação importante é que além de trazer benefícios para a saúde, existe uma chance de que uma dieta lowcarb possa ser também benéfica para questões diretamente ligados ao mergulho SCUBA.

Carlinhos

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Por que você deve colocar um programa de treinamento em sua vida?

Com certeza podemos ter diferentes respostas para essa pergunta. Porém considero que devemos responder essa questão através de uma abordagem evolutiva, que é o principio norteador das minhas concepções sobre condicionamento físico e saúde.


Apresento para vocês uma resposta que foi extraída de um trabalho chamado Physical Inactivity from the Viewpoint of Evolutionary Medicine e representa muito bem minhas convicções.


“Estamos diante de uma incompatibilidade dramática entre o ambiente atual e o ambiente em que o corpo humano evoluiu. Durante noventa e nove por cento da nossa história evolutiva nós fomos caçadores-coletores com um estilo de vida nômade. Nossos genes foram moldados pela seleção natural e sexual no sentido de uma adaptação ideal para estes ambientes e circunstâncias da vida, características que hoje não existem mais. Consequentemente, a vida moderna nas sociedades industrializadas promove o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, o que pode tornar a vida bastante desconfortável. A medicina evolutiva interpreta inúmeras doenças recentes como dores nas costas, alergias, problemas durante o parto, síndrome metabólica, distúrbios psicológicos, bem como doenças associadas com o envelhecimento como consequência desta diferença entre o ambiente contemporâneo e nossa herança genética. O que podemos fazer? Estamos claramente adaptados a um estilo de vida altamente ativo do ponto de vista físico. Vivendo em ambientes urbanos, a atividade física diminuiu, e não há nenhuma possibilidade de mudança. O esforço físico exigido no trabalho e nas atividades diárias diminui de forma constante. Carros, transporte público, elevadores, lojas na internet são tendências que promovem um estilo de vida sedentário. Portanto, a nossa única chance de aumentar a atividade física é a atividade desportiva/treinamento físico durante o tempo livre. Este é um padrão de atividade muito recente na história do Homo Sapiens. Nossos ancestrais não tinham nenhum desejo por atividades físicas. Se “mover” era apenas uma questão de sobrevivência. Nascemos para nos movimentarmos, para andar, correr, e agora temos que incorporar esses tipos de atividades em nosso tempo livre. Pela primeira vez em nossa evolução e história, temos que ser fisicamente ativo, não a fim de encontrar abrigo ou comida, mas para nos mantermos saudáveis. Este é um desafio completamente novo para o Homo Sapiens.”

Carlinhos

treinamentocarlinhos@gmail.com