segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A Culpa é das Estrelas?!

No último final de semana assisti um filme chamado A CULPA É DAS ESTRELAS [você pode ver o trailer aqui], o filme conta a história de dois jovens que tem câncer, mostra o surgimento de uma relação de amor entre os dois e todas as questões que envolvem o relacionamento de duas pessoas que sabem que a morte certamente chegará mais cedo do que para a grande maioria das pessoas.

 

Eu admito que tenho dificuldades de lidar com a única coisa que temos certeza que vai acontecer em nossas vidas, morrer. E talvez o motivo pelo qual trabalho e estudo a saúde seja para tentar com que essa fato consumado ocorra o mais tarde possível e assim eu possa ver meus filhos se tornarem país e quem sabe até avós.

Ao terminar o filme fiquei pensando no que esse título significa, que ideia o roteirista e o diretor tinham intenção de expressar. Será que eles estavam pensando em algum tipo de influência das estrelas sobre o câncer, será que as estrelas emitem algum tipo de radiação que seria um arauto cósmico do câncer [lembrei até do Surfista Prateado], brincadeira!


Considerando que é possível um milhão de interpretações diferentes para essa frase, imagino que uma possível seja que muitas vezes coisas que acontecem com a gente são determinadas pelo destino e que não temos controle sobre elas. Ai surgiu outra questão, será que realmente algumas questões ligadas a nossa saúde são determinadas pelo destino, "pelo desejo de Deus" [nenhuma crítica a nenhum tipo de religião], simplesmente acontecem ou é mesmo culpa das estrelas?

O câncer será por culpa das estrelas?

Hoje conhecemos uma série de fatores de risco para o câncer [veja alguns aqui], quando se fala de alimentação saudável para prevenir câncer podemos encontrar alimentos que evitam o câncer e alimentos que potencializam a doença.

Após terminar o filme comentei com minha esposa sobre os benefícios da alimentação com base evolutiva [lowcarb/paleo] no tratamento do câncer. O Dr. Dominic d'Agostine que trabalha na Universidade do Sul da Flórida [veja aqui] tem um trabalho com animais onde ele demonstrou a capacidade da dieta cetogênica de "matar as células cancerígenas de fome", pois estas células apresentam um defeito genético que não as permite utilizar gordura como fonte de energia, elas somente conseguem usar glicose. Já nossas células saudáveis podem usar as duas substâncias como fonte de energia, dessa forma uma dieta evolutiva, onde os carboidratos são extremamente reduzidos poderia matar as células cancerígenas.

Encontrei um artigo muito bom sobre esse tema [original aqui], vejam algumas partes traduzidas a seguir.

Câncer: Um Problema Novo

O câncer é uma doença moderna, era quase desconhecido antes da revolução agrícola. Após passar de uma dieta rica em proteínas, com alto teor de gorduras, reduzida em carboidratos e baixa em toxinas para uma dieta com base em cereais, as pessoas começaram a ter câncer.

Os seres humanos não são feitos para terem uma dieta baseada em grãos e carboidratos, nossos genes são feitos para responder a certos alimentos, tanto positiva como negativamente. O câncer é uma resposta bastante negativa. 

Os pesquisadores mencionam que a dieta não é o único fator para o desenvolvimento de câncer. Existem outros componentes, como atividade física regular, exposição ao sol, sono suficiente, baixa nível de estresse crônico e a falta de alimentos que também não estariam disponíveis para os nossos antepassados ​​pré-neolítico. Ok, então a dieta ainda é a parte mais importante. 

Antes que alguém comece a discursar sobre como isto somente se aplica aos carboidratos de alto índice glicêmico e divulgando  que os carboidratos complexos e os saudáveis ​​grãos integrais são importantes para uma boa saúde, é importante dizer que os grãos integrais têm uma resposta igual ou maior aos grãos não integrais [farinha branca] quando se compara a elevação da glicose e da insulina. Independentemente do tipo de grãos que você está comendo, eles ainda vão produzir uma grande elevação da glicose e consequente liberação de insulina. 

Os pesquisadores também mencionam a importância da "vitamina D. Isto é particularmente interessante, pois os grãos costumam esgotar os estoques de vitamina D e também interferem com sua absorção. Existem casos de pessoas com uma dieta baseada em grãos que desenvolvem raquitismo, apesar da ingestão adequada de vitamina D. A deficiência de vitamina D é mais um caminho pelo qual os grãos podem causar câncer.

Um estudo recente mostrou qual o papel dos grãos no câncer. Veganos, vegetarianos e a maioria dos americanos [nota do tradutor: hoje os brasileiros também] obtém a maioria de seus carboidratos dos grãos. Como os pesquisadores apontaram, carboidratos com origem nos grãos podem ser o principal problema e não os carboidratos em geral. Uma dieta rica em carboidratos é ruim para pacientes com câncer, mas uma dieta rica em cereais é ainda pior.

Normalmente, a restrição de carboidratos não se limita apenas a evitar o açúcar e outros alimentos de alto índice glicêmico, mas também a uma redução da ingestão de grãos. Grãos podem induzir inflamação em indivíduos suscetíveis, devido ao seu conteúdo de ácidos graxos ômega-6, lectinas e glúten. Em particular, o glúten pode desempenhar um papel chave na origem de doenças auto-imunes e desordens inflamatórias e algumas doenças malignas.

Grãos causam inflamação por si só, independentemente de você estar ou não em uma dieta pobre em carboidratos. Isto ocorre através de várias vias. Grãos contêm gorduras omega-6, lectinas e glúten. Tudo aquilo aquilo contribui para a inflamação irá contribuir com o câncer, mas glúten tem várias características especiais que agravam o crescimento do câncer. No intestino delgado, glúten desencadeia a libertação de uma proteína que regula as junções entre as células epiteliais do intestino e, por conseguinte, sua função de barreira sangue-cérebro. Evidências recentes sugerem que a superestimulação dessa proteína em indivíduos suscetíveis pode desregular a comunicação intercelular promovendo tumorigênese em órgãos específicos [veja aqui].

A redução da carga total de carboidratos não é tão importante como a remoção de hidratos de carbono com base de grãos. É triste pensar que o Steve Jobs [que morreu de um câncer] foi orientado para comer não só pão, como também para ter uma dieta dieta rica em carboidratos com 8-11 porções dos "saudáveis" grãos integrais todos os dias.

Os autores do estudo foram rápidos em oferecer uma solução: uma dieta baseada na evolução. Tanto estudos em animais, como em humanos têm demonstrado que uma diate baseada nos alimentos que ingerimos na maior parte da nossa evolução é extremamente eficaz em melhorar a tolerância à glicose e diminuindo o risco de doenças muito mais do que a uma dieta mediterrânea baseada em grãos. Mudar para uma dieta evolutiva irá remover os grãos e reduzir o índice glicêmico total da dieta. Os vegetais têm um índice glicêmico muito mais baixo do que os grãos. Estudos têm demonstrado que isso resulta em um melhor controle da glicose e menos inflamação. 

Dietas baseadas na evolução que, por definição, exclui produtos com origem em grãos, tem apresentado melhor capacidade para aprimorar o controle glicêmico e diminuir os fatores de risco cardiovascular do que as dietas normalmente recomendados com baixo teor de gordura e ricas em grãos integrais. Essas dietas não são, necessariamente, dietas muito pobres em carboidratos, mas o foco sobre a substituição de alimentos modernos como grãos, frutas ricas em frutose e leguminosas, desta forma reduzindo o Índice glicêmico total da dieta.

No original do artigo, vocês poderão ler outras importantes informações.

Uma dieta rica em grãos integrais e reduzida em gordura é justamente o que nosso Ministério da Saúde recomenda, assim como a grande maioria dos profissionais da saúde. Então, será que ter câncer é culpa das estrelas?

Será que é culpa das estrelas termos problemas cardíacos e diabetes?

Era uma madruga fria do inverno de 2007, fui acordado pelo telefone, antes de atender disse para minha esposa: - o pai faleceu. Depois de quase dois meses de uma diabetes descontrolada ele faleceu no hospital de infarto agudo do miocárdio. Deve ter sido culpa das estrelas?

Meados da década de 1970 meu pai foi diagnosticado como cardiopata. Ele tinha um problema de condução elétrica no coração envolvendo as Fibras de Purkinje, o que pode gerar alterações na capacidade de contração do coração [veja aqui].

Como foi nessa época que começaram das recomendações de que o saudável é uma dieta com pouca gordura e rica em grãos integrais para uma boa saúde cardiovascular [veja aqui], meu pai foi orientado a comer dessa forma. Lembro que minha mãe fazia peito de frango sem pele e com pouca gordura na panela, que ele somente comia pão integral e que evitava comer muita carne vermelha por causa da gordura saturada.

Não lembro exatamente quando meu pai foi diagnostico com diabetes tipo 2, nem quando foi o primeiro infarto ou quando foi o primeiro AVC. É meu pai teve tudo isso, mesmo seguindo uma dieta "saudável". O que eu sei é que hoje a ciência tem mostrado que o melhor para diabetes é uma dieta completamente diferente daquela recomendada para o meu pai [veja aqui e aqui] e que a gordura saturada não é fator de risco para doenças cardiovasculares [veja aqui e aqui].

Deve ter sido por culpa das estrelas que naquela madrugada do inverno de 2007 eu recebi a ligação do hospital dizendo que meu pai havia falecido!

Deve ser também por culpa das estrelas que minha sogra, uma senhora com mais de 80 anos, que come pão integral todos os dias, ingere mais carboidratos vindos das frutas do que de outros vegetais, evita as gorduras e segue todas as recomendações médicas tem diabetes tipo 2, tem hipertensão arterial, teve infarto e fez cirurgia para ponte de safena?

O melhor mesmo para saúde mundial é terminarmos com as estrelas!

Carlinhos
treinamentocarlinhos@gmail.com

sábado, 27 de setembro de 2014

História da Educação Física e do Exercício

Esse texto me foi sugerido por uma amigo e colega de profissão, Thiago Holanda, após a leitura me identifiquei com as ideias do autor.

Achei também que todos os profissionais da Educação Física deveriam ler, assim como aqueles que tem interesse pelo exercício físico e saúde.

O texto foi escrito por Erwan Le Corre, que é criador de uma método de treinamento chamado MovNat. Para conhecer mais sobre o método clic em www.movnat.com.

Nesta tradução em alguns parágrafos fiz o que chamei de "tradução interpretativa", ou seja, expressei aquilo que entendi da ideia do autor.

Caso algum leitor queira ler o artigo original ele pode ser acessado aqui

Se alguém identificar algum erro por favor me avise para que eu possa corrigir.

Aproveitem a leitura!

Carlinhos
treinamentocarlinhos@gmail.com

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História do Exercício e da Educação Física

Fitness, como nós a conhecemos hoje, parece ser uma invenção relativamente moderna - algo que começou vagamente na década de 70 com corrida e ginástica aeróbica. Mas o exercício físico, obviamente remonta muito mais longe do que isso, a uma época em que as pessoas não teriam pensado nisso como “uma sessão de treinamento”, mas sim um modo de vida. Séculos e milênios atrás, não existiam todos os aparelhos de ginástica e academias que temos hoje, e ainda assim eles estavam em melhor forma do que nós. Para entender por que isso aconteceu, como chegamos a nossa moderna cultura de ginástica e o que perdemos ao longo do caminho é necessário dar uma olhada na história do exercício.

Em um artigo anterior eu falei brevemente sobre a história do treinamento físico antes da existência das academias e programas de treinamento atuais. Este artigo é uma visão mais detalhada do exercício ao longo do tempo, desde as suas origens ancestrais, do início da história da educação física na Europa e América, a pletora das de modalidades de fitness, esportes e atividades dos dias de hoje.

Tempos primitivos: Mover-se para viver!

Desde o alvorecer da humanidade, cerca de 10.000 AC, os homens tinham uma voz constante em suas cabeças, dizendo: "Corra por sua vida!" O desenvolvimento físico seguiu um caminho natural que foi determinado pelas exigências práticas da vida em uma paisagem selvagem como bem como na necessidade vital para evitar ameaças e aproveitar as oportunidades para a sobrevivência.

As demandas de movimento consistiam de locomoção, manipulação de ferramentas e objetos naturais [pedras, galhos de árvores, etc], e defesa. Para sobreviver em um ambiente hostil repleto de obstáculos e inimigos naturais e também outros humanos, o homem primitivo tinha que saber não só como correr, mas também a pé, se equilíbriar, saltar, rastejar, escalar, levantar, carregar, jogar e pegar as coisas e também lutar. Nós também podemos seguramente assumir que os movimentos lúdicos ou criativos, como as primeiras formas de dança foram realizadas quando barrigas estavam cheias e os predadores não estavam por perto.

A força e a mobilidade do homem primitivo não foram desenvolvidas através de programas estruturados, métodos ou horários, mas sim forjadas pelo instintivo, pela prática diária, tendo sido orientadas pela necessidade de habilidades altamente práticas e adaptáveis de ​​movimento. Hoje, as poucas tribos de caçadores-coletores que ainda existem ao redor do mundo não têm ideia do que  o "fitness primal" ou o "treino de homem das cavernas" é ou como este tipo de "exercício" permanece profundamente enraizado em suas vidas cotidianas.

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Walking, balancing, carrying all at once. It doesn't get any more "functional" than this.
Período neolítico: Cultura da Colheita
Transição do homem de nômades caçadores-coletores para fazendeiros levaram a mudanças dramáticas em sua atividade física. As numerosas demandas do cultivo de alimentos e a criação de gado significou um monte de tarefas e um monte de trabalho diário para os agricultores. Mas essas tarefas eram em grande parte repetitivas, e exigiam uma gama muito limitada de movimentos. Ao mesmo tempo, a necessidade de executar uma variedade de movimentos complexos - correndo, balançando, pulando, rastejando, escalando – foi extremamente reduzida. Tais movimentos raramente eram realizados no ambiente das fazendas, ou simplificados. Por exemplo, subir uma escada é mais seguro, mais limitado e previsível do que subir em árvores.

 Antiguidade: Preparado para a guerra

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Entre 4000 AC e a queda do Império Romano em 476 DC, civilizações se erguiam e pereciam as guerras e conquistas. Assírios, Babilônios, Egípcios, Persas e mais tarde, os Gregos e Romanos, todos impunham treinamento físico a meninos e homens jovens. Com qual objetivo? Preparação para a batalha.

O treinamento militar antigo tinha semelhanças com os movimentos realizados na natureza por nossos irmãos homens das cavernas, mas com mais estrutura e um objetivo final diferente. Os jovens praticaram habilidades fundamentais, como caminhada e corrida em terrenos irregulares, pulando, rastejando, escalando, levantando e carregando objetos pesados​​, jogando e pegando coisas, praticando combate desarmado e treinamento com armas.

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Populações civilizadas valorizavam a cultura física para o esporte também. Registros de competições esportivas existem desde o antigo Egito, e claro os gregos antigos criaram os primeiros Jogos Olímpicos. Não surpreendentemente, esses primeiros esportes foram todos baseados em habilidades práticas de movimento natural e foram fundamentalmente relacionados com a preparação necessária para a guerra - os gregos esforçaram na execução [por vezes, com armadura e escudo] de saltos, arremessos [dardo ou disco] e luta.

Do lado de fora do treinamento militar e desportivo, os gregos, e mais tarde os romanos, celebravam a beleza e a força do corpo e abraçavam o treinamento físico como um ideal filosófico e uma parte essencial de uma educação completa. Eles celebravam a ideia de ter uma mente sã em um corpo sadio.

A Idade das trevas: A rejeição do corpo

A Idade Média foi um período caótico com uma sucessão de reinos e impérios, ondas de invasões bárbaras e pragas devastadoras. Os ensinamentos do cristianismo propagavam a crença de que a principal preocupação da vida estava em se preparar para a vida após a morte. O corpo era visto como algo pecaminoso e sem importância - era a alma de um homem que representava sua verdadeira essência. Educação foi esmagadoramente ligada à Igreja, com o foco em cultivar a mente, em vez de treinar o corpo.

Sob o feudalismo, o sistema social dominante na Europa medieval, apenas os nobres e os mercenários foram submetidos a treinamento físico para o serviço militar. Da mesma forma que nos tempos antigos, a sua era centrada em movimentos naturais e habilidades marciais.

O resto da população era composta em sua maioria camponeses obrigados a viver nas terras de seu senhor e trabalhar muito duro nos campos, usando ferramentas rudimentares. O seu "exercício" veio através do trabalho duro.

O Renascimento: Um novo começo

O Renascimento levou a um aumento do interesse no corpo, anatomia, biologia, saúde e educação física.

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Em 1420, Vittorino da Feltre, um humanista italiano e um dos primeiros educadores modernos, abriu uma escola muito popular, onde além das disciplinas humanistas, uma ênfase especial foi dada à educação física.

Em 1553, surge El Libro del Ejercicio Corporal y Sus Provechos, escrito pelo espanhol Cristobal Mendez, que foi o primeiro livro a abordar exclusivamente o exercício físico e seus benefícios. No livro, os exercícios, os jogos e esportes são classificados, analisados ​​e descritos a partir de um ponto de vista médico, e conselhos sobre é como prevenir e recuperar de lesões resultantes dessas atividades físicas são oferecidos. Vários capítulos ainda traziam conselhos específicos sobre determinados treinos e jogos para mulheres, crianças e idosos.

16 anos depois, Mercurialis, um médico italiano, publicou De Arte Gymnastica. Foi a finalização de seus estudos da literatura clássica e física, particularmente a abordagem dos antigos gregos e romanos para higiene, dieta e exercício, e seu uso de métodos naturais para o tratamento de doenças. Por mostrar pela primeira vez os princípios da fisioterapia e também por apresentar belas ilustrações [apesar de serem em grande parte especulações criativas] este livro é considerado o primeiro livro sobre medicina esportiva. Tendo influenciado fortemente a onda de métodos de ensino e de treinamento físico que começou a surgir na Europa dois séculos mais tarde.

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Velhos tempos: Aptidão pela pátria

A Revolução Industrial, que marca a transição do modo de produção manual para processos de fabricação baseados em máquinas, começou por volta de 1760 e rapidamente gerou tendências sociais, econômicas e culturais que mudaram a forma como as pessoas viviam e trabalhavam. Como as pessoas se tornaram mais sedentários, um novo movimento no sentido de exercício físico intencional surgiu. Neste movimento foi dado um impulso no século 19 a partir do surgimento de um fervor nacionalista em muitos países da Europa. Manter-se saudável, apto e pronto para servir no campo de batalha tornou-se um ponto de dever cívico e orgulho.

Na Europa

Em 1774, Johann Bernard Basedow, influenciado pelas ideias de Rousseau do "Natural Humano", abriu a Philanthropinum na Alemanha, com ênfase em exercícios físicos e jogos, incluindo luta livre, corrida, equitação, esgrima, saltos e dança. Nesta época uniformes escolares eram restritivos, nesta escola eles foram feitos para serem mais confortáveis para permitir aos alunos maior liberdade de movimento. Este modelo inspirou a fundação de muitas instituições semelhantes e o treinamento físico começou a tornar-se mais sistematizada e parte integrante do currículo educacional.

Vinte anos depois, Guts Muths, outra professora de alemão e educador, desenvolveu os princípios básicos da ginástica artística, por isso é considerado como o "Grande Avô da Ginástica". Seu Gymnastik für die Jugend [Ginástica para a Juventude] foi o livro primeiro que apresentou uma didática sistematizada para a ginástica, tendo sido publicado em 1800 e tornando-se um padrão de referência para a educação física no mundo.

Em 1810 entrou em cena a cultura física de Friedrich Jahn. Conhecido como "O Pai da Ginástica", ele foi um pioneiro da educação física, e suas ideias se espalharam pela Europa e América. A ginástica do educador e nacionalista alemão fervoroso sobreviveu a invasão de Napoleão em seus país, ele percebeu que a melhor maneira de evitar que isso se repetisse era ajudar seu povo desenvolver seus corpos e mentes. Para este fim, ele levou os jovens em expedições para locais com “ar fresco” e ensinou-lhes a ginástica e exercícios de relaxamento para restaurar a sua força física e moral.

Em 1811, Jahn abriu o primeiro Turnplatz, ou ginásio ao ar livre, em Berlim. Seu movimento  de ginástica, então chamado Turnverein, espalhou-se rapidamente por todo o país e em 1816 ele publicou Die Deutsche Turnkunst [A Ginástica alemão] onde descrevia seu sistema de ginástica.

Além dessas contribuições para a cultura física, Jahn inventou o cavalo com alças, barras horizontais e paralelas também promoveu o uso das argolas de ginástica. Os festivais de cultura física que ele patrocinava atraiam cerca de 30.000 entusiastas, mas a essência e o objetivo final de seu método eram, acima de tudo, prático e funcional, não artístico. Ele defendeu a prática dos movimentos naturais tradicionais, como corrida, equilíbrio, saltos, escaladas e assim por diante.

Bem-informado deste modelo alemão, bem como da antiga tradição do atletismo, o sueco Pehr Henrik Ling desenvolveu princípios do desenvolvimento físico, enfatizando a integração do desenvolvimento corporal perfeito com a beleza muscular. Em contraste com o sistema alemão, este sistema sueco promovia "ginástica leve," empregando alguns poucos aparelhos [Ling inventou as barras de parede] e tinha o foco em exercícios de relaxamento, respiração, alongamentos e massagem.

A ginástica sueca teve quatro categorias: pedagógica, militar, médica e estética. Todos os movimentos tinham que ser realizados corretamente e coletivamente sob a supervisão de um líder, o que era bastante diferente da abordagem alemã. Aspectos do método sueco ainda aparecem em alguns programas modernos de treinamento físico.

Na mesma época, o espanhol Francisco Amoros fundou uma escola de ginástica militar em Madrid, em seguida mudou-se para Paris e fundou a Escola Civil e Militar normal de Ginástica em 1819. Em 1830, ele publicou um guia para Educação Moral, Física e Ginástica.

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Depois de ter sido removido de sua posição como líder do programa de treinamento físico do exército, ele abriu um popular salão de ginástica civil em Paris e tornou-se o iniciador da educação física na França e na Espanha.

Em 1847, o francês pioneiro da cultura física e “strongman” Hippolyte Tríade fundou um enorme ginásio em Paris, onde os burgueses, aristocratas e os jovens estavam unidos em uma busca entusiasta pela aptidão.

Na década de 1870, após a perda de Alsácia-Lorena para os alemães, o estado de espírito nacionalista já em ascensão na França explodiu. A educação física tornou-se um foco principal nas escolas francesas, onde batalhões de jovens foram treinados para vingar o país.

Na Escócia, os Jogos das Highlands começaram durante a década de 1830, eles incluiam desafios físicos tradicionais característicos da cultura escocesa, como “caber tossing”, arremesso de martelo de pedra colocado, juntamente com a corrida, saltos e lutas.

Na Inglaterra, o conceito de "sobrevivência do mais apto" de Charles Darwin deu vida a um movimento de cultura física. Os Ingleses queriam ser fortes o suficiente para subir ao topo da hierarquia da natureza. Em 1849 a primeira competição de atletismo Inglês foi realizada na Academia Real Militar. Scot Archibald MacLaren abriu um ginásio bem equipado na Universidade de Oxford em 1858, onde treinou 12 oficiais do exército, que em seguida, implementaram seu regime de treinamento físico para o exército britânico.

Também vale a pena mencionar o movimento Checa Sokol. Fundada em 1862, esta organização da juventude para esporte e ginástica foi inspirada no Turnverein alemão [Movimento de Ginástica] que incluía o treinamento físico, moral e intelectual para a nação através de programas de fitness [principalmente centrada em exercícios de marcha, esgrima, e várias formas de levantamento de peso], palestras, passeios em grupo e enormes festivais de ginástica. Este treinamento que incluiu homens de todas as classes econômicas, eventualmente as mulheres e finalmente todo o mundo eslavo.

Inicio do século 20, o oficial da marinha francesa e educador físico Georges Hebert desempenhou um papel de destaque no movimento de cultura física, utilizando as culturas do passado. Tendo estudado os princípios defendidos por seus antecessores, incluindo Jahn e Amoros, ele foi pioneiro o seu próprio "método natural." Seu método foi inteiramente baseado em habilidades naturais do movimento tais como andar, correr, equilibrar, pular, rastejar, escalar, habilidades manipulativas e de autodefesa. Hebert foi o responsável pelo treinamento físico de todos os marinheiros da marinha francesa e depois abriu o maior e mais moderno centro de treinamento indoor/outdoor em Reims em 1913.

Hebert publicou seu primeiro livro, L'Education Physique où l'Entrainement Complet par la Methode Naturelle [Educação Física ou Formação completa pelo Método Natural] em 1912, seguido por muitos outros trabalhos sobre o mesmo assunto.

Nos EUA

Uma vez que a ameaça de invasão estrangeira nunca foi tão grande nos Estados Unidos, essa ameaça estava na Europa, a necessidade de se preparar para a guerra não era tão grande e portanto, uma ênfase na cultura física veio a ocorrer mais tarde nos EUA.

Catharine Beecher foi uma das pioneiras ao criar uma consciência de aptidão nos Estados Unidos. Como uma forte defensora da inclusão da educação física nas escolas, bem como dos exercícios diários para ambos os sexos, ela desenvolveu um programa de ginástica que utilizava música. Quando Beecher fundou o Seminário Feminino Hartford em 1823, esta foi a primeira grande instituição de ensino dos Estados Unidos para as mulheres, onde ocorreu a implementação de cursos de educação física.

Ao mesmo tempo, as tradições de cultura física européia começaram a se enraizar na América. Muitos "Turners" [praticantes alemães do sistema de ginástica de Jahn] emigraram para os EUA, e em 1824, o erudito alemão Charles Beck abriu um ginásio ao ar livre em Massachusetts, que foi semelhante aos Turnplatz de Jahn. Foi a primeira academia do país e organizou o primeiro programa de ginástica escolar no país.

Muitos outros “Turners” tornaram-se ativos no sistema de ensino público americano e fortemente influenciaram a abertura de clubes e ginásios em vários estados. Um dos profissionais mais notáveis ​​dessa tradição européia foi Dudley Allen Sargent, que é considerado o fundador da educação física nos Estados Unidos. De 1879 até sua aposentadoria [em 1919] ele foi diretor do Hemenway Ginasium da Universidade de Harvard, onde ensinou os sistemas alemão e sueco que havia aprendido quando jovem. Sargent também desafiou a visão vitoriana de mulheres como fracas e propensas a desmaios e defendeu a liberdade de se vestir e atividade vigorosa para meninas e mulheres.

Sargent inventou vários aparelhos de ginástica, criou um teste universal para força, velocidade e resistência [Universal Test for Strength, Speed and Endurance] em 1902, escreveu inúmeros artigos e livros sobre educação física e advertiu que "sem programas de educação física sólida, as pessoas tornar-se-iam gordas, deformadas, e desajeitadas."

O ponto fundamental do desenvolvimento da cultura física, tanto na Europa e os EUA durante este período foi que estes sistemas ginástica eram todos muito semelhantes e tinham coma base em uma abordagem prática. "Ginástica" ou "exercícios calistenicos" não representavam “acrobacias”, mas habilidades de movimento mais utilitárias e de força que era essencial para situações da vida real dos militares.

A exceção a esta tendência foi a introdução de aparelhos como o Gymnasticon. Inventado em 1796 e que foi o precursor aparelhos de treinamento modernos.

Gymnasticon

O uso de equipamentos de ginástica iria pegar mesmo no século 20, seriam baseados em pesos com uma abordagem fortemente orientada para a cultura física. Essas duas tendências levaria à indústria de fitness moderna como a conhecemos.

O surgimento da indústria moderna do fitness

O século 20 marcou a ascensão de esportes competitivos e especializados, bem como o surgimento de um mercado de "fitness" e de uma indústria bem organizada e próspera.

No início do século 20, ao mesmo tempo, Georges Hebert desenvolveu e promoveu o seu "Método Natural". Outro francês, o Professor Edmond Desbonnet, conseguiu fazer exercício físico e treinamento de força “ficassem na moda” através de publicações de revistas de fitness [ele usou a fotografia para capturar atletas do sexo masculino e feminino] e também abriu uma cadeia de clubes de exercício. Este estabeleceu uma base forte para a cultura física na Europa, mas também para o "fitness" como uma indústria.

Sistema de Desbonnet foi uma reação contra a decadência da Belle Epoque, durante o qual as pessoas viviam sem pensar em sua condição física e de saúde. No auge de sua popularidade, ele tinha mais de 200 centros de fitness, e vários dos famosos “strogmens” e fisiculturistas da época eram defensores do método Desbonnet.

Sendo bastante caros, esse centros de fitness eram frequentados pela classe alta da sociedade francesa e européia antes da Primeira Guerra Mundial. Depois da guerra a classe trabalhadora também passou a ter acesso ao movimento de cultura física.

Durante o mesmo período nos EUA, Bernarr Macfadden ganhou destaque como um guru da cultura física e saúde american. Ele recomendou um estilo de vida minimalista baseado no tempo gasto na natureza, no exercício físico vigoroso diário e na uma dieta sem álcool, chá, café e pão branco.

Macfadden começou a comercializar um aparelho de parede para o desenvolvimento muscular de que ele havia criado, e fundou uma das primeiras revistas de musculação, Physical Culture em 1899. Ele também organizou a primeira competição de cultura física nos Estados Unidos em 1903 e outras competições semelhantes em 1921 e 1922. Foi o responsável pela do maior ícone da cultura física, Charles Atlas. Em 1935, o império publicitário de Macfadden tinha um total de 35 milhões de leitores, ele morreu um multimilionário em 1955.

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Desbonnet e Macfadden podem ser vistos como os precursores da indústria de saúde e do fitness como a conhecemos. A partir daí, entramos na era da confusão, idade do fitness como business, e seus muitos modismos e com a sua atual abordagem de musculação, do uso de máquinas de exercício cada vez mais sofisticados em academias, de equipamentos domésticos orientados pela estética, do grande negócio de suplementos, das inúmeras revistas, dos livros,  dos DVDs e agora o surgimento de exercício baseado em tecnologia.

Ao longo de um século, milhares de métodos e programas surgiram, todos prometendo levar as pessoas para a “melhor forma de sua vida” no “menor tempo possível”, com resultados geralmente se limitando as melhorias em sua aparência física.

Segue uma pequena lista, que é apenas uma amostra desses métodos e dispositivos onde pessoas têm investiram milhões de dólares no século passado:
·         Vibrating belt
·         Jack LaLanne’s TV tips and juicing
·         Jane Fonda’s aerobics
·         Simmons’s “Sweatin’ to the Oldies” videos
·         Bowflex home gyms
·         Thighmasters
·         8 Minute Abs
·         Ab Rollers
·         Tae Bo
·         Pilates
·         Spinning
·         P90X
·         Wii Fit
·         Power Plates
·         Sauna Suits
·         Power Wristbands
·         E muito mais…

Se em um lado temos o “exercício não regulamentados” por outro a “ciência do exercício”. O exercício físico tem sido analisado e quantificado em laboratórios, enormes quantidades de dados sobre os efeitos do movimento sobre corpo humano ter sido acumulado. Os profissionais que fazem carreira “analisando esses dados” e “fazendo recomendações com base neles”, são regulados por de numerosas organizações, associações, conselhos, federações e comissões, como:
·         Academy of Applied Personal Training Education
·         American College of Sports Medicine
·         American Council on Exercise
·         International Fitness Professionals Association
·         National Academy of Sports Medicine


O estado atual da cultura física: “Perdido em fitness”

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Ao refletirmos sobre a evolução da aptidão física ao longo dos séculos e suas diferentes facetas presentes em nossa cultura física moderna, é importante nos perguntarmos: o que perdemos e o que ganhamos?

Obviamente, muita coisa boa saiu disso tudo: maior consciência da importância do exercício físico regular, encontramos academias, ginásios ou praças onde as pessoas podem se exercitar em quase todos os locais e entendemos mais sobre como funciona o corpo humano e como ele responde ao treinamento físico.

Contudo, apesar da infinidade de métodos de saúde e fitness, programas e recursos, a população em geral nunca foi tão sedentária e fora de forma.

Um relatório recente da Organização Mundial da Saúde indica que a espectativa de vida em os EUA caiu pela primeira vez desde 1993, a saúde das pessoas modernas está diminuindo apesar de tecnologias médicas altamente avançadas, mesmo a indústria da saúde e fitness prosperando. Como pode ser isso?

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Uma questão importante é a motivação. As pessoas simplesmente não são tão motivadas para mover ses corpos e ficarem saudáveis como era no passado. Vivemos em uma sociedade onde a incapacidade de lidar com corpo de uma maneira prática e eficaz não é mais uma situação primordial.

Em minha opinião, a indústria de saúde e fitness como um todo, não importando quanto é "de ponta" ou quanto "revolucionário" cada novo programa pretende ser, não esta conseguindo gerar, a maioria das pessoas, motivação real desfrutar dos benefícios do exercício físico. Além de algumas poucas exceções, acredito que a indústria tem contribuído para a disseminação de uma percepção limitada do que a saúde e fitness são e assim as pessoas estão virando as costas.

A esmagadora maioria tem a percepção mais comum do que significa estar em forma, e a principal motivação para se exercitar, é “estar bem esteticamente”. Não é mais ter um corpo saudável e que pode realmente fazer coisas que são úteis para a vida real.

Atualmente a visão mais comum sobre como deve ser o exercício é de que você precisa de máquinas para exercícios aeróbicos, para músculos e força e também para estar bem esteticamente. E quem sabe acrescentar um pouco de alongamento a isso tudo [há equipamentos para isso também]. Não nos esquecemos de algumas vitaminas e suplementos para você ser saudável e estar em forma!

Para quase todas as pessoas, o exercício é uma simples tarefa e não um prazer; é algo que as pessoas precisam se forçar a fazer e não uma expressão natural de quem eles são.

Por último, mas não menos importante, muitos que tentam resolver as suas necessidades de aptidão física estão confusos quanto a que modalidade escolher, perdemos a clareza e a simplicidade, nós perdemos o senso de praticidade e com isso perdemos naturalidade.

Um novo paradigma para o futuro

Vejo dois paradigmas radicalmente diferentes sobre o futuro do exercício no horizonte.

Por um lado, estamos entrando uma era onde cada vez mais as máquinas avançadas de exercício tendem a remover as pessoas da vida real, da natureza e as afastar daquilo que seus corpos são naturalmente projetados para fazer. Eu vejo a idade da tecnologia de ginástica, com aparelhos conectados com seus aplicativos, sensores e fios. A idade de "bio-pirataria" e da eficiência exercício, oferecendo promessas como: "Fique em forma em 3 minutos de exercício por semana!" A era da onipresente auto quantificação onde as pessoas obsessivamente conferem curvas de dados em uma tela, tentando gerir a sua saúde e aptidão da maneira mais científica possível. É realmente nessa direção que deveríamos estar indo?

Apesar de tudo que a indústria de saúde e fitness oferece as pessoas nunca estiveram tão inativas fisicamente. Então devemos esperar que a resposta para esta situação viesse desses variados programas tecnologicamente desenvolvidos e ou avançados equipamentos? Ou será que a solução vem de uma mentalidade diferente, uma abordagem mais simples e prática e de uma nova cultura?

Meu amigo e expert movimento funcional, Grey Cook uma vez disse: "Nós estamos destinados a crescer forte e envelhecer graciosamente. A recuperação do movimento autêntico é o ponto de partida".

Para se tornar [e permanecer] forte e saudável, a maioria de nós, só precisa mover-se naturalmente, como todos os seres humanos costumavam fazer a não muito tempo. Precisamos praticar as habilidades motoras fundamentais para desenvolver uma base de competência física que é útil na vida real. Nós também precisamos empregar uma abordagem “que retorne as origens”, que seja prático, tanto na execução e como nos objetivos, que as pessoas achem agradável, que seja progressiva, que não obrigatoriamente venha a exigir equipamentos muito caros e que pode ser realizada em grupos.

Então me deixe apresentar um o paradigma, que alternativo em relação aquilo que eu imagino para o futuro do exercício físico. Por milhares de anos, o desenvolvimento físico seguiu um caminho natural; estamos habituados a movimentos naturais gerados pelas exigências da vida. Tigres, ursos, cavalos selvagens, gorilas, golfinhos, águias ainda fazem o mesmo que faziam a milhares de anos atrás. Nós ainda somos “projetados” para acompanhar a evolução e a natureza. Por centenas de anos, nossos antepassados ​​têm confiaram em um “projeto” que se mostrou imediatamente útil e capaz de gerar benefícios práticos para as suas vidas.

Movimento natural, ou o desempenho físico prático, esteve no centro do exercício durante séculos. Isso também provavelmente fez parte dos nossos anos de infância. Nessa época nós corríamos, saltávamos, nos equilibrávamos, engatinhávamos, subíamos, carregávamos umas coisas, atirávamos outras e brincávamos. Hoje você precisa de máquinas ou aplicativos de smartphones? Você precisa controlar alguma coisa? Você fica pensando em quais músculos esta exercitando?

Só porque as conveniências modernas eliminaram a necessidade de se movimentar , caso você esteja com fome, é só clicar e pedir uma pizza on-line, certo? E só porque a indústria de fitness nos levou a acreditar que a aptidão acontece apenas dentro da academia e com um equipamento, não significa que nossa natureza biológica, potencial evolutivo natural e nossa necessidade de movimentos complexos e adaptáveis ​​tenham mudado.

Não temos de aceitar o nosso estilo de vida sedentário e permanecer cercado pelas máquinas que criamos a fim de nos tornarmos mais aptos. Não temos de manter uma falsa dicotomia entre força e condição cardiovascular, entre corpo e mente, entre aptidão e saúde ou entre o exercício como algo que fazemos e do movimento e da atividade física como uma expressão de quem somos.

Eu acredito que não é só um dever biológico, mas também um dever moral que todos estejam equipados com as habilidades de movimento, força, condicionamento e força mental que são necessários para responder de forma eficaz às exigências físicas da vida real. Eu também acredito que a natureza é o que todos nós precisamos - a natureza fora de nós, e tão importante quanto nossa natureza física interna. Autor Richard Louv coloca isso muito bem:

"O futuro pertence à natureza inteligente. A mais alta tecnologia se torna, de mais a natureza que precisamos ".

Alejandro Jodorowsky disse uma vez que "aves nascidas em uma gaiola acham voar é uma doença." Aprendemos a negligência, a desconfiança e até o medo nossos próprios movimentos naturais. A verdade é que ainda temos um verdadeiro potencial natural para um movimento poderoso, elegante e útil. Mova-se para que você possa ser forte e seja forte para que você possa ser livre.

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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Exercício como Forma de Prevenção de Doença Descompressiva Durante Mergulhos com Equipamento SCUBA

Notas: 
Essa postagem ficou bastante extensa, porém acredito que para falar desse tema isso tenha sido necessário.
Peço desculpas para os leitores desse blog que não praticam mergulho SCUBA e que por ventura tenham a dificuldades para entender alguns termos ou conceitos aqui colocados. Me coloco a disposição para qualquer esclarecimento.



INTRODUÇÃO

A exploração de ambientes subaquáticos acontece desde 2500 a.C., quando mergulhadores gregos tornaram as esponjas um produto comercial (McARDLE ET AL, 2003). Hoje as pessoas se aventuram no ambiente subaquático para experimentar a sensação de “não ter peso”, encontrar seres diferentes e coloridos, para exploração arqueológica, para extração de petróleo, e também com fins científicos.

Como todo a exploração, a exploração do ambiente subaquático apresenta riscos. Dentre estes riscos temos a doença descompressiva (DD), que é o aspecto mais misterioso e mais estudado do mergulho desde o século XIX.

A DD é a manifestação de diferentes sinais e sintomas que surgem após um mergulhador realizar uma descompressão e pode levá-lo à morte. O entendimento da DD passa pela definição da palavra descompressão, que pode ser definida como o ato de diminuir a pressão. Quando uma descompressão não é realizada da forma adequada pode ocorrer a formação de bolhas nos tecidos que geram diferentes sinais e sintomas ocasionados pelo bloqueio do fluxo sangüíneo e/ou por danos gerados por efeitos mecânicos e bioquímicos (HAMILTON & THALMANN, 2002).

Essa formação de bolhas gasosas nos tecidos corporais é decorrente da absorção de nitrogênio ou de outro gás inerte pelos nossos tecidos (BUHLMANN ET AL, 1967), que ocorre durante a compressão, ou seja, com aumento da pressão gerado pelo aumento da profundidade (NAUI, 1994), e também pela liberação do mesmo gás durante uma descompressão inadequada. Podemos definir descompressão inadequada como uma diminuição da pressão em velocidades superiores a 18 metros por minuto (HAMILTON & THALMANN, 2003). Dependendo da profundidade (pressão) à qual o mergulhador fica exposto e do tempo nesta profundidade, essa velocidade de subida deve ser diminuída e paradas descompressivas a determinadas profundidades, por determinados períodos de tempo, devem ser realizadas. Esta modificação do padrão de subida é denominada de descompressão estagiada, que por vez é a aplicação de uma série de equações matemáticas que estimam a absorção de gases inertes e de como esse gás será eliminado durante a subida (PALMER, 1997), de forma a evitar a formação de bolhas nos tecidos.

Podemos afirmar que a DD é um fenômeno que apresenta um certo grau de complexidade para o entendimento de seus mecanismos e para o desenvolvimento de métodos preventivos e de tratamento. A complexidade da busca pelo entendimento da DD pode ser identificada na afirmação de que “é necessária a utilização de diferentes cenários para a explicação de cada um dos tipos de sintomas da DD” (IMBERT, 1998, p.139).

Outro aspecto do quadro de dificuldade desta busca é notado quando do ponto de vista histórico percebemos que o estudo da DD iniciou a mais de um século, em 1873 com o Dr. A.H. Smith estudando os males ocasionados nos trabalhadores da construção da ponte do Brooklyn (NY/USA), gerados pelos turnos de trabalho em caixões pressurizados, e teve seu marco de transição para o mergulho com a publicação da obra intitulada THE PREVENTION OF COMPRESSED - AIR ILLNES de J.S. Haldane, A. Boycott e G. Damant em 1908 (McARDLE ET AL, 2003). Desde então, diversos autores (BERG, 1945; BUHLMANN ET AL, 1967; SPENCER, 1976; RATTNER ET AL, 1979; WISLOFF & BRUBAKK, 20O1; HYLDEGARD, 2001; CARUTRAN ET AL, 2002) buscam dados para ampliação das ferramentas para o entendimento da DD. A partir deste período, surgiram diferentes métodos para diminuir a incidência de DD, como a teoria da dinâmica dos gases na sua fase livre (MAIKEN, 1995). Este modelo descompressivo difere dos modelos baseados no trabalho de HALDANE, que tem como fundamento principal, os gases inertes dissolvidos (HENRIQUES, 1995), por considerar que a DD também pode ser causada por bolhas gasosas que nunca estiveram dissolvidas nos tecidos. Além de métodos que alteram o modo como um mergulho é realizado, temos também os métodos que buscam modificar a maneira como nosso corpo lida com os gases inertes respirados durante o mergulho. Como exemplo temos a utilização de micróbios intestinais, capazes de metabolizar o Hidrogênio, com o objetivo de diminuir a carga de gás inerte durante mergulhos simulados com animais (FAHLMANN ET AL, 2001; KAYAR ET AL, 2001). 

No que tange ao exercício e ao treinamento físico, sua influência sobre a DD vem sendo estudada desde a década de 40 (HARRRIS ET AL,1945A; HARRIS ET AL, 1945B; WHITAKER ET AL, 1945).  Um elevado grau de condicionamento físico mostrou ser capaz de reduzir a incidência e as probabilidades de DD devido às alterações geradas na quantidade de bolhas formadas após mergulhos simulados e reais em homens e animais (RATTNER ET AL, 1979; CARTURAN ET AL, 2002). Mais recentemente, Dujic et al. (2004) analisaram a influência do exercício aeróbico realizado anteriormente ao mergulho, sobre a formação de bolhas gasosas após o mergulho em seres humanos. Cuja influência se mostrou benéfica. Os resultados e outras questões pertinentes ao trabalho de Dujic et al. (2004) serão analisadas nesta resenha crítica.

O trabalho a ser analisado foi escrito por Zijko Dujic, Darko Duplanici, Ivana Merionovic-Terzic, Darija Bakovic, Vledimir Ivancev, Zoran Valic, Davor Eterovic, Nadan M Petri, Ulrik Wisloff e Alf O Brubakk e realizado na UNIVERSITY OF SPLIT SCHOOL OF MEDICINE na cidade de SPLIT na CROÁCIA. Posteriormente foi publicado no JOURNAL OF PHYSIOLOGY - LONDON (QUALIS A Internacional: CAPES) no seu volume 555, número 3, páginas 637-642, com o título de AEROBIC EXERCISE BEFORE DIVING REDUCES VENOUS GAS BUBBLE FORMATION IN HUMANS. No ANEXO 1, temos uma cópia do artigo original em Inglês e no ANEXO 2, uma cópia da tradução do artigo original para o Português.

APRESENTAÇÃO DA OBRA

Um modelo com animais (ratos) demonstrou que uma única sessão de exercício aeróbico realizada 20 horas antes do mergulho gerava uma proteção quanto a DD grave e morte, assim como reduzia a quantidade de bolhas (WISLOFF & BRUBAKK, 2001). Desta maneira, no trabalho em questão (DUJIC ET AL, 2004) os autores decidiram investigar a hipótese, em seres humanos, de que uma única sessão de exercício aeróbico realizada 24 horas antes de um mergulho simulado poderia reduzir a formação de bolhas após o mergulho.

Para isso foi estudada uma população de 13 mergulhadores do sexo masculino com idade variando entre 22 e 38 anos e com índice massa corporal (IMC) entre 21,5 e 29 kg/cm­­². Os procedimentos experimentais foram conduzidos de acordo com a declaração de Helsinque e aprovados pelo comitê de ética da UNIVERSITY OF SPLIT SCHOOL OF MEDICINE. Além disso, cada um dos participantes forneceu um consentimento informado por escrito e assinado.

Após a determinação do consumo máximo de oxigênio (VO2máx) e da freqüência cardíaca máxima (FCmáx), através de um teste de esforço em esteira, cada um dos sujeitos realizou dois mergulhos simulados em uma câmara hiperbárica. Os mergulhos foram realizados à uma pressão de 280 kPa (28 metros), respirando ar comprimido e permanecendo nesta pressão por 80 minutos. Ao final de cada mergulho o indivíduo era descomprimido em uma velocidade de 90 kPa/min (9 m/min) até a pressão de 130 kPa (3 metros), onde permanecia por 7 minutos e depois, na mesma velocidade, era descomprimido até a pressão da superfície (100 kPa).

Os dois mergulhos eram separados por um período de 7 dias, um deles era precedido por uma sessão de exercício aeróbico em esteira. Esta sessão de exercício era composta por 3 minutos a 90% da FCmax e 2 minutos a 50% da FCmax, sendo esse conjunto de 5 minutos repetidos por 8 vezes. Este protocolo para sessão de exercício é baseado em um método de treinamento que tem a finalidade de aumentar o VO2máx de jogadores de futebol (DUJIC ET AL, 2004).

Ao final da descompressão até 100kPa o individuo era colocado em decúbito lateral esquerdo e uma investigação cardíaca era realizada utilizando-se um scanner ultra-sônico, com o objetivo de avaliar a graduação das bolhas. A monitorização das bolhas foi realizada a cada 20 minutos por um período de 80 minutos após o mergulho simulado.

Além da graduação das bolhas feita pelas imagens cardíacas, que são equivalentes a escala sonora de Spencer (SPENCER, 1976), a quantidade de bolhas por cm² também foi mensurada. As diferenças da quantidade e da graduação das bolhas entre os mergulhos e entre os grupos (mergulho c/ exercício e mergulho s/ exercício) foram avaliadas através de um teste para amostras pariadas (WILCOXON) com um limite de significância de P<0,05.

Os resultados (DUJIC ET AL, 2004) mostraram que quando uma sessão de exercício aeróbico era realizada antes do mergulho simulado, ao final deste ocorria uma redução da graduação máxima das bolhas de 3 para 1,5 (P = 0,002) e a média das bolhas por cm² era reduzida de 0,98 para 0,22 (P = 0,006). Os dados completos para cada um dos mergulhadores aparecem na TABELA 1 (ANEXO 1).

De acordo com Dujic et al (2004), foi a primeira vez que uma única sessão de exercício aeróbico, não um programa de treinamento, demonstrou ser capaz de reduzir a formação de bolhas pós-mergulho em seres humanos. A redução de bolhas ocasionada por uma única sessão de exercício havia sido demonstrada somente em animais (WISLOFF & BRUBAKK, 2001). Se considerarmos a observação de que uma graduação de bolhas de nível 3 esta relacionada com um aumento dos riscos de DD (SAWATZKY & NISHI, 2001 apud DUJIC ET AL, 2004), o exercício pode ser considerado uma medida preventiva em relação a DD.

Considerando-se que a origem das bolhas pode ser micronúcleos gasosos (BERG ET AL, 1944), que são bolhas com um diâmetro inferior a 1 mícron (HENRIQUES, 1995) e que ficam presas no endotélio vascular, podendo crescer com a redução da pressão ambiente (DUJIC ET AL, 2004). Podemos inferir que o mecanismo de proteção gerado pelo exercício aeróbico pode estar relacionado com a produção de óxido nítrico (ON) (WISLOFF ET AL, 2003). O ON pode gerar alterações na parede endotelial e reduzir o número de micronúcleos aderidos à parede dos vasos sanguíneos (WISLOFF & BRUBAKK, 2001).

Entretanto existe, a possibilidade de que o mecanismo de proteção seja multifatorial (DUJIC ET AL, 2004). Um estudo envolvendo ratos, que recebiam altas doses de ON síntase (uma droga inibidora do ON), demonstrou um aumento na formação de bolhas pós-mergulho quando a droga era administrada em comparação a um mergulho sem a administração da droga (WISLOFF ET AL, 2003). Mas, quando os ratos recebiam a droga inibidora e realizavam uma sessão de exercícios, o aumento na formação de bolhas não era constatado (WISLOFF ET AL, 2003). Colaborando com essa visão de que talvez outros mecanismos estejam envolvidos, temos o fato que quando uma droga estimulante do ON é administrada em ratos antes do mergulho, eles apresentam uma redução da quantidade de bolhas em comparação a um mergulho sem a administração prévia da droga, da mesma forma que acontece com a realização de exercício aeróbico pré-mergulho (WISLOFF ET AL, 2004).
               
Considera-se que exista uma associação entre uma maior produção de bolhas e o nível de condicionamento físico e de gordura corporal, tanto em seres humanos como em animais (CARTURAN ET AL, 2002; WISLOFF ET AL, 2003). Porém os autores do trabalho analisado (DUJIC ET AL, 2004) relataram não ter havido uma relação entre esses fatores individuais e a formação das bolhas. Eles creditaram este fato ao tamanho de amostra.  

Dujic et al (2004) concluíram que uma única sessão de exercício aeróbico pré-mergulho pode diminuir a formação de bolhas vasculares pós-mergulho em seres humanos. Sendo possível considerar o exercício como um procedimento não-farmacológico para a redução da ocorrência e do risco de DD grave. 

APRECIAÇÃO CRÍTICA

Mergulhos simulados e mergulhos reais

As respostas fisiológicas decorrentes da absorção e eliminação de gases inertes durante a compressão e descompressão em seres humanos vêm sendo estudada através de mergulhos simulados em câmaras hiperbáricas secas há bastante tempo (BUHLMANN ET AL, 1967). Este desenho experimental já foi utilizado para avaliar os efeitos da formação de bolhas sobre a mecânica pulmonar (CATRON ET AL, 1986; DUJIC ET AL, 1993), para verificar os efeitos de uma descompressão direta à superfície sobre a latência dos sintomas de DD e a formação de bolhas (ECKENNHOFF & PARKER, 1984). Porém outros pesquisadores (ECKENHOFF ET AL, 1990; CARTURAN ET AL, 2002) se preocuparam em utilizar a imersão na água para avaliar os efeitos do condicionamento físico, do nível de adiposidade (CARTURAN ET AL, 2002) e de outros fatores fisiológicos (ECKENHOFF ET AL, 1990) sobre a formação das bolhas.

Parece que devemos considerar o fato de que em situações reais, os mergulhadores ficam expostos à pelo menos uma condição distinta em relação à câmara hiperbárica seca, a imersão. E, por vezes, há algumas condições ambientais ou fisiológicas diferentes, como o frio e a diurese (CARTURAN ET AL, 2002).  Quando da imersão do corpo humano na água ocorre um aumento do volume sangüíneo central, ocasionado por um fluxo de sangue dos membros inferiores e do abdômen (JOHANSEN ET AL, 1997; WATENPAUGH ET AL, 2000). Esse tipo de redistribuição sangüínea poderia gerar um efeito similar ao do exercício durante o mergulho, de aumentar o fluxo sangüíneo na artéria pulmonar que por sua vez, pode ocorrer juntamente com um aumento no volume de bolhas pré-mergulho (FLOOK, 1997).

A literatura relacionada com as agências certificadoras de mergulhadores (LENIHAN, 1992; MOUNT, 1995; PADI, 1997; PALMER, 1997) costuma considerar a desidratação um fator contribuinte importante para a ocorrência de DD, devido à capacidade de transporte de gases inertes diminuída por causa de uma redução na quantidade de sangue (PADI, 1997). Se considerarmos que a imersão gera uma perda de líquidos devido ao aumento do fluxo urinário (WATENPAUGH ET AL, 2000; McARDLE ET AL, 2003), que é acompanhado de uma redução do volume sangüíneo e plasmático (HOPE ET AL, 2001), podemos aceitar a hipótese de que a desidratação contribui para o surgimento de sintomas relacionados com a descompressão. Desta forma, as investigações em câmaras hiperbáricas quando comparadas com investigações com mergulhos reais podem gerar respostas distintas devido às alterações relacionadas com a imersão.

Investigadores têm afirmado, que mesmo existindo diferenças significativas entre a absorção e eliminação de nitrogênio (ou outro gás inerte) em ambientes reais e câmaras hiperbáricas, a comparação dos resultados pode ser considerada válida (COPE apud KROSS & BAKER, 2001).

Considerando as informações referidas anteriormente podemos dizer que Dujic et al (2004) poderiam ter realizado um desenho experimental que pudesse controlar a variáveis: imersão e ambiente seco. Como foi feito em um estudo anterior, onde a quantidade de bolhas pós-mergulho foi avaliada em câmara hiperbárica e mergulhos reais (SPENCER, 1976).

Utilização de misturas respiratórias enriquecidas de oxigênio

Misturas respiratórias com percentuais de oxigênio superiores a 21% (conteúdo do ar ambiente) vêm sendo utilizadas no mergulho desde 1878, quando HENRY FLEUSS realizou um mergulho respirando uma mistura com cerca de 50% de oxigênio (McARDLE ET AL, 2003). A idéia por trás do aumento do conteúdo de oxigênio de uma mistura respiratória é na realidade de diminuir o conteúdo de nitrogênio e com isso gerar redução em potencial do risco de DD (JABLONSKY, 2001).

Enquanto um mergulhador permanece sob pressão, a quantidade de gás inerte dissolvida nos seus tecidos aumenta. Durante a descompressão irá ocorrer um estado de supersaturação, a pressão parcial do gás inerte se torna maior que a pressão ambiente (HAMILTON & THALMANN, 2002). Para que o gás inerte seja eliminado é necessário que um certo grau de supersaturação ocorra, porém quando o grau de supersaturação é muito alto existe risco da formação de bolhas, levando a um alto risco de DD (HENRIQUES, 1995). Assim, com a respiração de misturas com percentuais de oxigênio superiores a 21%, ocorre uma redução da tensão total de gás inerte nos tecidos e durante a subida o grau de supersaturação é reduzido (HAMILTON & THALMANN, 2002), podendo ser considerada que exista uma redução do risco de DD.

Em estudos com animais a utilização de oxigênio hiperbárico (ARIELI ET AL, 2002) ou uma elevada pressão parcial de oxigênio inspirado (REINERTSEN ET AL, 1998) gerou uma menor formação de bolhas após a descompressão.

Além da possível redução das bolhas, o oxigênio também é utilizado pelos mergulhadores como componente da mistura respiratória durante a descompressão para aumentar o gradiente de pressão entre a gás alveolar e o sangue, e desta forma acelerar a eliminação de nitrogênio e/ou hélio (CREA, 1992; GENTILE, 1998).

A confirmação de que o método de descompressão que utiliza oxigênio, em altas concentrações pode ser realmente eficiente, está na realização de duas explorações em cavernas alagadas na Flórida (USA). Uma ocorrida em 1987 (CHOWDHURY, 2001, p.112) e outra em 1998 (JABLONSKI, 1999), que realizaram mergulhos com mais de 20 horas de duração, alcançando profundidades de 90 metros e requerendo cerca de 15 horas de descompressão com misturas enriquecidas com oxigênio (JABLONSKI, 1999). Durante as duas explorações nenhum caso de DD foi relatado (CHOWDHURY, 2001, p.116).

Considerando todas as informações anteriormente citadas, seria importante que o efeito de uma sessão de exercício aeróbico sobre a formação de bolhas pós-mergulho fosse estudado em mergulhos com misturas respiratórias enriquecidas com oxigênio, já que o trabalho de Dujic et al (2004) foi realizado com os mergulhadores respirando ar comprimido (aprox. 21% oxigênio e 79% de nitrogênio).

Aclimatação ao mergulho

Quando nosso organismo é exposto a um ambiente diferente daquele que ele está acostumado, surgem algumas alterações fisiológicas. Um conjunto dessas alterações ou respostas pode ser chamado de aclimatação. O efeito da altitude sobre a fisiologia do organismo humano tem sido bastante estudado. Neste campo temos trabalhos que avaliaram as alterações na atividade simpática (MAZZEO ET AL, 1998), estudaram a utilização de ácidos graxos em repouso na altitude (ORBERTS ET AL, 1996), verificaram as alterações na FC máxima após um período de exposição à altitude (GONZALEZ ET AL, 1998), assim como também a influência do fato de morar na altitude e treinar em altitudes menores afeta o desempenho de corredores ao nível do mar (LEVINE ET AL, 1997).  No mergulho, estudos verificando as adaptações a repetidas imersões ou exposições ao ambiente hiperbárico (HANNA & HONG, 1972; HUANG ET AL, 2003; SU ET AL, 2004; MONTCALM-SMITH ET AL, 2004) também já foram realizados.

Quando um mergulhador é exposto por repetidos dias à imersão na água, pode ocorrer uma adaptação ao frio e o tempo que ele consegue ficar imerso sem tremores pode aumentar (HANNA & HONG, 1972). Assim como ocorrem adaptações térmicas, também podem ocorrer adaptações devido à formação de bolhas e/ou sintomas de DD. Um estudo demonstrou que a exposição de 30 minutos por dia a profundidades que variaram entre 12 e 21 metros, por um período de 4 dias, pode reduzir a incidência de DD em ratos de 64% para 42% (MONTCALM-SMITH ET AL, 2004). Estudos envolvendo ratos e coelhos demonstraram que a formação de bolhas esta relacionada com o aumento de uma proteína ligada ao estresse térmico, HSP70 (HUANG ET AL, 2003), nos pulmões e no coração (SU ET AL, 2004).

Mergulhos regulares por um período de 2 meses, podem levar a alterações de agentes anti-inflamatórios e pró-inflamatórios (ERSSON ET AL, 2002). A exposição a ambientes hiperbáricos, de forma rotineira, gera um aumento da IL-8 (substância ativadora dos leucócitos) e um decréscimo da SLPI (uma protease que inibe a ação dos leucócitos), demonstrando uma influência do mergulho sobre o sistema de defesa (ERSSON ET AL, 2002). Estas alterações podem levar a efeitos de proteção, que por sua vez, podem estar relacionados a uma aclimatação gerada pelo mergulho (SU ET AL, 2004).

No trabalho de Dujic et al (2004) os autores relatam que os mergulhadores participantes tinham entre 90 e 8000 horas de mergulho, o que pode ser considerada uma variação bastante grande na experiência e na freqüência de mergulhos de cada um, levando em consideração a possibilidade de uma adaptação à formação das bolhas, o que poderia reduzir o risco de DD. Talvez um controle maior sobre a freqüência com que cada sujeito mergulha e sobre as variáveis fisiológicas que controlam o estresse, como feito em outros trabalhos (ERSSON ET AL, 2002; HUANG ET AL, 2003; SU ET AL, 2004), tivessem sido importantes para controlar a variável aclimatação no estudo analisado (DUJIC ET AL, 2004) nesta resenha.

Validade do exercício como fator de Proteção para DD
               
O tema exercício e a formação de bolhas vêm sendo estudados há bastante tempo (HARRIS ET AL, 1945A; HARRIS ETAL, 1945B; WHITAKER ET AL, 1945), e parecem apresentar algumas questões interessantes. Levando em consideração essas questões discutiremos o exercício e sua influência sobre a formação de bolhas, dividindo o assunto em dois grupos: 1) durante e após a descompressão e 2) antes da descompressão, já que o momento da realização pode diferenciar os resultados (JANKOWSKI ET AL, 1997; WEBB ET AL, 2002; WISLOFF & BRUBAKK, 2001).

 Validade do exercício como fator de proteção durante e após a descompressão.
               
Um estudo envolvendo animais demonstrou que a atividade muscular intensa após a descompressão favorece a formação de bolhas (HARRIS ET AL, 1945A). Já um trabalho recente, com seres humanos, mostrou que o exercício moderado após a descompressão não induz a DD (WEBB ET AL, 2002). Além da diferença de um trabalho ter envolvido animais (ratos e coelhos) e outro envolvido seres humanos, devemos ressaltar que no trabalho de Harris et al (1945A) o exercício foi simulado através de estimulação elétrica e os animais estavam anestesiados. Enquanto que no trabalho de Webb et al (2002), foi realizado exercício dinâmico em ciclo-ergômetro com intensidade de 50% do VO2máx.

No que diz respeito à realização de exercício durante a descompressão, ele pode ocasionar uma maior formação de bolhas pós-descompressão (WHITAKER ET AL, 1945) e que isto poderia ter como responsável o Dióxido de Carbono, que devido a sua alta concentração quando dissolvido poderia ser responsável pelo crescimento inicial das bolhas, que mais tarde se expandiriam devido ao Nitrogênio. Contudo, levando em consideração dados mais atuais (JANKOWSKI ET AL, 2004) podemos dizer que o exercício moderado durante a descompressão reduz a formação de bolhas, mas não diminui a incidência de DD (JANKOWSKI ET AL, 1997).
Analisando os trabalhos que mostram que o exercício, durante ou após a descompressão, aumenta a formação de bolhas veremos que estes trabalhos envolveram ações musculares máximas (HARRIS ET AL, 1945A e 1945B; WHITAKER ET AL, 1945). Enquanto nos trabalhos, onde o exercício diminui a formação de bolhas, a atividade realizada era moderada (JANKOWSKI ET AL, 1997; WEBB ET AL, 2002). Talvez esta menor intensidade do exercício não favoreça o aumento da formação de bolhas, que pode ser ocasionada pelo crescimento inicial da bolha gerado pelo Dióxido de Carbono (HARRIS ET AL, 1945A) ou pela agitação mecânica no músculo (WHITAKER ET AL, 1945) que pode formar bolhas por cavitação (IMBERT, 1998).

Do ponto de vista prático, mesmo que o exercício durante a descompressão gere uma redução na formação de bolhas e uma conseqüente redução no risco de DD, talvez realizar atividades moderadas durante o mergulho cria-se um problema logístico por aumentar o consumo da mistura respiratória. Dessa forma, devido à limitada capacidade de armazenamento da mistura respiratória, não seja possível completar o mergulho com o nível de atividade aumentado.

Validade do exercício e do treinamento como fator de proteção antes da descompressão.

Quando falamos da influência do exercício realizado antes do mergulho e/ou da descompressão sobre a formação de bolhas, os trabalhos realizados com animais (WISLOFF & BRUBAKK, 2001; WISLOFF ET AL, 2003 e 2004) e o trabalho que esta sendo analisado (DUJIC ETAL, 2004) mostraram que pode ocorrer uma redução na formação de bolhas. Contudo, analisando uma única sessão de exercício aeróbico, esse efeito de proteção parece ser maior quando o exercício é realizado cerca 20 horas antes do mergulho (WISSLOF & BRUBAKK, 2001; WISLOFF ET AL, 2004). Vamos olhar com mais atenção os resultados destes e de outro trabalhos.

No trabalho de Wisslof & Brubakk (2001) os autores realizaram quatro diferentes protocolos. No protocolo número I (P1) foram testados 14 ratos divididos em dois grupos, um realizou um programa de treinamento por 2 semanas e outro era composto de ratos sedentários. No protocolo número II (P2) foram testados 14 ratos divididos em dois grupos, um realizou um programa de treinamento por 6 semanas e outro grupo permaneceu sedentário. No protocolo número III (P3) 12 ratos foram divididos também em dois grupos, porém neste protocolo o grupo que envolvia exercício não realizou um programa de treinamento e sim uma única sessão de 1,5 horas de exercício aeróbico e como nos outros protocolos um segundo grupo, de ratos sedentários, foi testado. Neste três primeiros grupos o treinamento ou o exercício era realizado 20 horas antes do mergulho. Já no protocolo número IV (P4), 12 ratos também foram agrupados como no P3, mas o treinamento era realizado 48 horas antes do mergulho. Como resultado deste trabalho temos que os P1, P2 e P3 mostraram uma significativa redução na formação de bolhas e no aumento do tempo de sobrevivência dos ratos (P<0,03). O P4 também apresentou uma diferença significativa (P<0,06), porém os autores consideraram que este protocolo gerou uma ação de proteção menor do que os outros.
 
Analisando os resultados do estudo de Wisloff et al (2004), onde foram realizados cinco diferentes protocolos, veremos que os dados que apresentaram diferenças estatísticas somente apareceram nos protocolos em que o exercício era realizado 20 ou 48 horas antes do mergulho. Nos grupos onde o exercício foi realizado 10 horas, 5 horas ou 30 minutos antes do mergulho tanto a graduação de bolhas quanto o tempo de sobrevivência não foram diferentes entre os ratos exercitados e os não exercitados. Dentro do protocolo que apresentou as maiores diferenças estatísticas (exercício 20 horas antes do mergulho) notamos que tanto a graduação de bolhas quanto o tempo de sobrevivência do grupo de ratos exercitados foram diferentes (P<0,001) do grupo sem exercício do mesmo protocolo e também dos grupos com e sem exercício dos demais protocolos (P<0,001). Já no protocolo onde o exercício foi realizado 48 horas antes, podemos ver que somente o tempo de sobrevivência foi estatisticamente diferente (P<0,001) quando comparado como grupo sem exercício do mesmo protocolo.   

Considerando que os resultados mostrados anteriormente (WISSLOF & BRUBAKK, 2001; WISLOFF ET AL, 2004) coincidem e a estes dados somarmos o fato de que mergulhadores com um VO2máx inferior a 40 ml/kg/min, quando comprados com mergulhadores que apresentam valores de VO2máx superiores a 40 ml/kg/min, apresentam uma graduação média de bolhas maior (CARTURAN ET AL, 2002), podemos dizer que tanto um programa de treinamento que aumente o VO2máx (WISLOFF & BRUBAKK, 2001) como a realização de sessões únicas de exercício aeróbico em períodos de 24 e 48 horas antes do mergulho (WISSLOF ET AL, 2004; DUJIC ET AL, 2004) podem trazer algum tipo de proteção contra DD.

Quanto ao exercício realizado antes do mergulho, porém em períodos menores do que 24 horas, temos que sessões únicas de exercício aeróbico realizadas 10 horas, 5 horas ou 30 minutos não geram nenhum tipo de redução na formação de bolhas (WISLOFF & BRUBAKK, 2001; WISLOFF ET AL, 2003 e 2004). Porém, um trabalho com seres humanos, em que uma sessão de exercícios (flexão do joelho, por 10 minutos, capaz de gerar um gasto calórico de 235 Kcal/hora) era realizada 3 vezes em período de 2 horas antes da descompressão do nível do mar para a altitude de 6700 metros (DERVAY ET AL, 2002), demonstrou um aumento na formação de bolhas se comparada a uma descompressão que foi precedida de 2 horas de repouso, mas nenhum caso de DD foi relatado.

Estas informações quanto ao exercício imediatamente antes do mergulho quando analisadas conjuntamente ao posicionamento de diferentes autores-mergulhadores, com inúmeros anos de prática no ensino de mergulho e exploração subaquática (LENIHAN, 1992; MOUNT, 1995; PALMER, 1997), de que o exercício e/ou o esforço físico em algum momento antes ou durante o mergulho pode ser considerado um fator contribuinte para a ocorrência de DD, nos leva a uma abordagem cautelosa de evitarmos este tipo de prática nestas circunstâncias. Pelo menos até que novos dados venham a surgir neste campo de estudo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados apresentados no trabalho de Dujic et al (2004) mostraram que o exercício, como método preventivo, pode apresentar um potencial para a redução do risco de DD. Esta informação poderá servir como alavanca para o desenvolvimento de uma metodologia para a prevenção de DD que envolva praticas realizadas anteriormente ao mergulho.

Contudo em uma avaliação individual dos dados de cada um dos sujeitos que participaram do trabalho de Dujic et al (2004), que aparecem na TABELA 1 (ANEXO1), notaremos que o individuo número 1 e o individuo número 12 apresentaram uma mesma graduação de bolhas (graduação 3) após o mergulho precedido de exercício e após o mergulho não precedido de exercício. Além disso, o individuo número 1 mostrou um aumento do número médio de bolhas de 0,60 cm² para 0,80 cm².

Levando em consideração que uma graduação de bolhas 3 aumenta significativamente o risco do DD (SAWATZY & NISHI, 1991 apud DIJUC ET AL, 2004) e que na investigação de Spencer (1976) todos os indivíduos que ao final dos mergulhos tinham graduação 3 ou maior de bolhas apresentaram dores e sintomas cutâneos e necessitaram de tratamento, podemos considerar a necessidade de que estudos com este desenho sejam repetidos com um número maior de indivíduos.

Além do aumento no tamanho da amostra, parece que outros pontos como a realização de mergulhos em condições reais, a avaliação dos efeitos de um maior conteúdo de oxigênio na mistura respiratória e o controle das variáveis fisiológicas relacionadas à aclimatação, também devam ser considerados para que possamos elucidar a influência do exercício pré-mergulho sobre a formação de bolhas vasculares e consequentemente sobre o risco de DD.

Carlinhos
treinamentocarlinhos@gmail.com

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