segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Alimentação de Crianças e Adolescentes

Como pai não faria o menor sentido escrever um blog sobre treinamento e alimentação, e não escrever sobre esses temas relacionados com as crianças. Na postagem anterior escrevi sobre minha preocupação com a alimentação das crianças. Resolvi ir um puco mais fundo nesse tema.

As recomendações nutricionais do Ministério da Saúde e da Organização Pan-Americana de Saúde [1] para crianças em idade pré-escolar são:
  1. Procure oferecer alimentos de diferentes grupos, distribuindo-os em pelo menos três refeições e dois lanches por dia.
  2. Inclua diariamente alimentos como cereais (arroz, milho), tubérculos (batatas), raízes (mandioca/macaxeira/ aipim), pães e massas, distribuindo esses alimentos nas 
  3. refeições e lanches ao longo do dia.
  4. Procure oferecer diariamente legumes e verduras como parte das refeições da criança. As frutas podem ser  distribuídas nas refeições, sobremesas e lanches.
  5. Ofereça feijão com arroz todos os dias, ou no mínimo  cinco vezes por semana.
  6. Ofereça diariamente leite e derivados, como queijo e  iogurte, nos lanches, e carnes, aves, peixes ou ovos na  refeição principal.
  7. Alimentos gordurosos e frituras devem ser evitados; prefira alimentos assados, grelhados ou cozidos. 
  8. Evite oferecer refrigerantes e sucos industrializados, balas, bombons, biscoitos doces e recheados, salgadinhos e outras guloseimas no dia a dia.
  9. Diminua a quantidade de sal na comida.
  10. Estimule a criança a beber bastante água e sucos naturais de frutas durante o dia, de preferência nos intervalos das refeições, para manter a hidratação e a saúde do corpo.
Para os adolescentes as recomendações nutricionais [1] são:
  1. Realizar 5 a 6 refeições diárias (café-da-manhã, almoço e jantar, e lanches nos intervalos).
  2. Preferir proteínas de alto valor biológico (carnes, ovos, leite e derivados).
  3. Estimular o consumo de peixes marinhos duas vezes por semana.
  4. Evitar açúcares simples, dando preferência aos complexos 
  5. (ricos em fibras).
  6. Evitar gorduras saturadas e colesterol (menos de 2% de gorduras trans).
  7. Controlar a ingestão de sal (menos de 6g/dia).
  8. Evitar refrigerantes.
  9. Ingerir frutas, verduras e legumes (mais de cinco porções/dia).
  10. Evitar trocas de refeições por lanches
O mesmo documento [1] mostra um quadro sobre o número de porções recomendadas de cada tipo de alimentos para cada faixa etária.



No paradigma dominante da saúde e da nutrição todas essas recomendações parecem coerentes e difíceis de serem questionadas. Concordo que refrigerantes e açúcar devem ser evitados, assim como os sucos e bebidas lácteas industrializadas, veja aqui por quê. 

Mas o conceito de que gordura é prejudicial para a saúde e o saudável é uma ingestão de até 9 porções de carboidratos [preferencialmente integrais] não é sustentado quando fazemos uma abordagem evolutiva usando a ciência baseada em evidência para determinar quais as informações são as "mais verdadeiras".

Os equívocos científicos que levaram  a associação entre gordura e riscos a saúde podem ser vistos em Alimentação III e os trabalhos científicos [que geram evidências de grande valor] que mostram não haver relação entre a ingestão de gordura e prejuízos para a saúde pode ser visto em Alimentação IV.

As informações científicas que demonstram não haver relação entre ingestão de gordura total e gordura saturada com doenças cardiovasculares são cada vez maiores [2, 3, 4, 5 e 6]. Um bom resumo dessas informações pode ser visto em um documentário da TV Australiana, que foi realizado em dois episódios [veja a parte 1 aqui e a 2 aqui].

Outra questão importante é a preocupação com a ingestão elevada de proteínas. Mas como no caso da ingestão de gordura a ciência já demonstrou que uma dieta rica em proteínas não aumenta os riscos de osteoporose [7] ou de problemas renais [8,9,10,11,12].

Todas as informações citadas anteriormente são de trabalhos científicos feitos com adultos, infelizmente não temos muitos trabalhos feitos com crianças, vamos dois...

Este primeiro estudo [13] foi realizado para avaliar o modo como as dietas com baixa quantidade de carboidrato afetam os macronutrientes e sua relação com à saúde. Foram avaliadas 5.194 jovens entre 12 a 18 anos de idade. Os dados dietéticos foram coletados através de um questionário de freqüência alimentar. Dietas pobres em carboidratos com redução na ingestão de legumes e frutas, um maior consumo de carne e gorduras,  menor ingestão de vitamina C e fibras. A dieta pobre em carboidratos também foi associada com tabagismo e uso de álcool. Os autores concluíram que dietas de baixo carboidrato podem ter um impacto negativo sobre a saúde a curto e longo prazo.

Lendo os resultados e conclusões do estudo citado, em um primeiro momento podemos pensar que dietas com menos carboidratos e mais gorduras são ruins para crianças e adolescentes. Porém é vital considerarmos que o trabalho citado é um estudo observacional e seus resultados somente podem mostrar correlação e não causa e efeito [leia mais sobre isso em ciência baseada em evidência]. No máximo esse trabalho pode gerar a formulação de hipóteses que necessitam serem testadas com trabalhos experimentais [leia mais sobre isso em ciência baseada em evidência].

Quando a dieta de baixo teor de carboidratos foi avaliada através de um estudo experimental [14] não foi possível determinar que essa fosse prejudicial. O estudo [14] teve o objetivo de comparar os efeitos de uma dieta pobre em carboidratos [LC] com os de uma dieta com baixo teor de gordura [LF] na perda de peso e perfil lipídico em adolescentes com excesso de peso e teve duração de 12 semanas. O grupo de estudo LC [16 jovens] foi instruído a consumir < 40 g de carboidratos por dia e comer alimentos de acordo com a fome. O grupo controle LF [14 jovens] foi instruído a consumir < 30% da energia em gordura. A composição da dieta e peso foram monitorados e registrados a cada 2 semanas. Perfis de lípidos obtidos no início do estudo e ao fim de 12 semanas. O grupo LC perdeu mais peso [média de 10 kg vs 4 kg] e não foram observados efeitos adversos sobre o perfil lipídico dos participantes em ambos os grupos. os autores concluíram que uma dieta LC parece ser um método eficaz para a perda de peso a curto prazo em adolescentes com excesso de peso e não prejudica o perfil lipídico.

O conceito que gordura é causa dos problemas cardiovasculares esta, ainda, tão fixo na mente dos médicos e profissionais da saúde que quando são realizados estudos observacionais sobre o tema, a variável escolhida para ser medida sempre é a ingestão de gordura e não a ingestão de carboidratos e alimentos industrializados. Foi isso que aconteceu em 1998 em um estudo [15] chamado Bogalusa Heart Study que relacionou a ingestão de gordura total e gordura saturada com obesidade infantil e aumento do risco de aterosclerose.

Por essa abordagem equivocada de não avaliar os efeitos da ingestão excessiva de carboidratos sobre os riscos cardiovasculares é que as pessoas recebem as recomendações de ingerir mais carboidratos e menos gordura. Infelizmente isso faz com que a grande maioria dos pais alimentem seus filhos de uma forma que pode levá-los a ter problemas de saúde.

Quero escrever mais sobre esse tema, pois acredito ser de vital importância.

Abraços...Carlinhos


Referências:
  1. ftp://ftp.medicina.ufmg.br/observaped/cartilhas/Cartilha_Orientacao_Nutricional_12_03_13.pdf
  2. http://jama.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=377969
  3. http://jama.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=202339
  4. http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1200303
  5. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11282859
  6. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Meta-analysis+of+prospective+cohort+studies+evaluating+the+association+of+saturated+fat+with+cardiovascular+disease
  7. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16718399
  8. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1262767/pdf/1743-7075-2-25.pdf
  9. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10578207
  10. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2631482/pdf/1550-2783-6-3.pdf
  11. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20338292
  12. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3023677/pdf/1475-2891-9-72.pdf
  13. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16256764
  14. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12640371
  15. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/9860370

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